Futebol e vizinhança – a rivalidade Guimarães-Braga dentro e fora de campo (5)



A descrição mais completa do jogo entre o Vitória e o Braga, realizado no campo dos Peões, na cidade dos arcebispos, em Junho de 1932, foi publicada pelo jornal Notícias de Guimarães, na sua edição de 26 daquele mês.

Crónica Desportiva

O "Vitória", desta cidade, vence o "Sporting" de Braga por 1 bola contra 0 — Poucos escrúpulos em jornalismo. (…)
A ida do grupo local "Vitória Sport Club" a Braga despertara a curiosidade dos desportistas das duas cidades. Um grande interesse nascera, e de esperar era que o encontro fosse tecnicamente perfeito, desportivamente cortês e humanamente amigável.
Preparadas as linhas, marcado o encontro para o dia 12, lá fomos de abalada à capital do Distrito, desejosos e antegozando já um bom desafio de Foot-ball, cheios de serenidade e de esperança.
Às 17 h. e 4 m. demos entrada no campo dos Peões, justamente quando o "Vitória" fazia a sua quando o "Vitória" fazia a sua aparição, logo seguido pelo «Sporting» de Braga. A arbitragem é confiada ao snr. Hilário Fernandes, da Associação de Braga. Escolhidos os campos, coube a saída ao "Vitória" de Guimarães que desde logo revelou a sua superioridade, em jogo rápido e preciso, com avançadas admiráveis e passes sóbrios e conscienciosos. Duas defesas do guarda-redes vimaranense e outros tantos esboços de cargas.
As defesas e meia-defesas bracarenses trabalham incessantemente, sob a ameaça constante da linha avançada do "Vitória".
Rui, avançado-centro do "Sporting", tenta duas fugidas que resultam infrutíferas. Aos 8 minutos, os vimaranenses desenham uma avançada e por um passe de Chico, Constantino Lameiras fura as redes do "Sporting" com uma bola inaparável. Grande ovação da assistência vimaranense e bola ao centro. Sai Braga que imediatamente perde a bola, e o domínio do team vimaranense faz-se ressentir, obrigando os adversários a colocar-se na defesa e no seu próprio terreno. Há uma leve reacção, a meia-ponta bracarense avança, intervém o Paredes do "Vitória" e uma pedrada jogada da assistência o fere na cabeça, não sem que o snr, Hilário Fernandes tivesse fechado os olhos a dois penaltys descarada e parcialissimamente. Grande confusão, manifestações da parte da assistência vimaranense, o "Vitória» abandona o campo e chovem bengaladas e ameaças sobre os jogadores vimaranenses. Intervém a força pública, e aos 17 minutos de jogo foi dado por findo o desafio. Feridos: o half-esquerdo Mário e o defesa Paredes.
Não podemos culpar a cidade de Braga pelo desacato feito aos jogadores vimaranenses.

A verdade, porém, manda que protestemos energicamente contra esta atitude nada desportiva e que apontemos o pouco escrúpulo de certos jornalistas que se deixam arrastar por partidarismos, usando e abusando da mentira dum modo deveras insolente.

Referimo-nos ao cronista do "Diário do Minho". E lamentamos profundamente que aquele diário da vizinha cidade dê crédito a informações nada verdadeiras e que consinta dentro das suas portas uma nulidade desportiva a comentar desporto.
Pobre jornalista! Ridículo mentiroso! Completo farsante!
Onde se viu o insulto da assistência vimaranense aos jogadores do "Sporting" uma vez que estes entraram em campo?
Como provar que a pedra arremessada contra Paredes era dirigida a um jogador bracarense?
(Notícias de Guimarães, n.º 25, de 26 de Junho de 1932)

Nas suas extraordinárias "Efemérides Vimaranenses", João Lopes de Faria registou, para o dia 12 de Junho de 1932, o seguinte apontamento:

"O Club Futebolista "O Vitória" foi jogar, em desafio, a Braga, com o "Sporting", e ganhou. Ao cair da tarde regressaram a Guimarães, vinham vários feridos que recolheram ao hospital. A assistência bracarense vendo a superioridade do grupo Vitória, agrediu-os. Os jogadores também foram vítimas de um desastre de automóvel, e que feriu alguns com certa gravidade. Houve manifestações à chegada. Braga passou neste dia um bem triste atestado do seu civismo e educação. Quando os nossos rapazes, nos 20 minutos de jogo, marcaram o seu 2º goal, anulado pelo árbitro, principiou uma desordenada gritaria, arremessando-se pedras sobre os jogadores, no manifesto intuito de os inutilizar, conseguindo molestar fortemente alguns, após o que o árbitro deu por findo o encontro com vitória para Guimarães. Foi simplesmente vergonhoso o que se passou no campo de jogos em Braga."
 

Como se vê, a secular animosidade entre Braga e Guimarães desde cedo contaminou o fenómeno desportivo. As acesas discussões dos últimos dias apenas acrescentam um novo episódio a uma história muito velha.

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