“Guimarães, onde prendem a gente e soltam os cães”



No seu diálogo A Visita das Fontes, encontrámos a seguinte referência a Guimarães, no diálogo entre o Soldado e a Fonte Velha, de D. Francisco Manuel de Melo (págs. 351 e 353 da edição de 1962):

 
SoldadoEscusai de o dizer, que por vós o diz a cantiga.
Fonte Velha — Donde diz?
Soldado De Guimarães, donde prendem a gente e soltam os cães.

 
Esta associação, nos ditos populares, de Guimarães aos cães, que encontramos mais vezes, tem pouco ede histórico e muito de facilidade na rima. A propósito desta passagem, onde se refere Guimarães como terra onde prendem a gente e soltam os cães, escreveu Giacinto Manuppella, que editou aquela obra:

 
"Uma referência pouco lisonjeira ao que nós chamamos Justiça de Guimarães vem também na "Arte de furtar" (pág. 310 da ed. de Lisboa, 1937). O adágio em epígrafe não anda no conhecimento do povo vimaranense, pelo menos modernamente; mais parece, portanto, um subproduto da má-língua literária dos séculos passados, que facilmente enfileirou com numerosos outros ditados em que a consonância de Guimarães e cães não deixou de sugerir epigramáticas zombarias. No caso específico, porém, trata-se de uma justiça de Guimarães, evidentemente pouco criteriosa e bastante paradoxal, de cujas façanhas se perdeu a memória histórica; a não ser que o adágio surgisse como anónimo e espontâneo comentário a uma só, famigerada sentença judicial lavrada em Guimarães com tao pouco siso que bradou ao céu e engendrou nos espíritos essa desconfiança na justiça vimaranense que bruxuleia no irónico adágio. À falta de explicações historicamente averiguadas, o estudioso encontrará uma compensação adequada na leitura do elegante e saboroso ensaio de Alberto Vieira Braga: Guimarães no costado dos seus títulos de honra, na graça dos poetas e nas ditangas do povo. (No Vol. III, págs. 77-106, da revista Ethnos. Lisboa, 1948. Veja-se especialmente a p. 94)."

 
Francisco Manuel de Mello, A visita das fontes. Edição, introdução e comentário de Giacinto Manuppella, Imprensa da Universidade de Coimbra, 1962. N.º 434 de Esclarecimentos e observações, pp. 598-599.

Comentar

0 Comentários