1910: O Cometa Halley (não) visto de Guimarães


O cometa Halley fotografado no céu de Nova Iorque (1910)
 
O Cometa de Halley

Conforme o Independente já noticiou, desde Janeiro passado que o cometa de Halley, com o auxílio de um pequeno telescópio principiou a descortinar-se na região do zodíaco onde então brilhavam Marte e Saturno, prosseguindo então no seu movimento aparente na abóbada celeste de Oriente para o Ocidente, ao encontro do Sol.

Nos princípios de Março, o cometa de Halley, já mais brilhante, mas ainda invisível a olho nu, podia observar-se após o anoitecer do lado do poente, não muito acima do horizonte, e assim foi ao acercando do Sol, desapareceu de todo afogado na sua luz, até que a 28 de Março teve lugar a sua conjunção superior, isto é achou-se na mesma direcção que o Sol em relação à terra, para o lado de lá do Sol.

Assim foi prosseguindo o seu movimento para o Ocidente, afastando-se na aparência do Sol, caminhando mais tarde para o Oriente, ao encontro do astro do dia, até que na noite de 18 para 19 do corrente teve lugar a sua conjunção inferior, isto é, encontrou-se na mesma direcção que o Sol em relação à terra, mas para cá do Sol.

Não há dúvida que nessa noite, pelas 2 horas da manhã, o núcleo do cometa ou melhor a sua projecção, atravessou o disco solar de Ocidente para o Oriente, mas ninguém em Guimarães deu pelo fenómeno, o que não admira, pois que ele só podia ser observado pelos habitantes das regiões opostas do globo.

Mas se de antemão já sabíamos que não nos era dado ver a passagem do núcleo sobre a Terra, contávamos ver a cauda luminosa do cometa atravessar a Terra. Para esse fim subimos a um dos pontos mais altos da cidade para melhor observarmos o fenómeno e lá permanecemos desde as 2 horas até depois das 3 horas da madrugada.

Durante todo esse tempo a atmosfera esteve sempre empanada e sombria, de forma que não foi possível descortinar se o feixe luminoso que, caminhando de Oriente para Ocidente, devia ter envolvido a terra àquela hora.

Mas nem ao menos se notaram no horizonte os reflexos aurorais que decerto iluminariam a atmosfera se conseguissem penetrar através da densidade.

[Independente, n.º 441, ano 9.º, Guimarães, 21 de Maio de 1910]

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