Alfredo Pimenta, republicano

No dia 23 de Novembro de 1910, Alfredo Pimenta proferiu, na Associação dos Empregados do Comércio de Guimarães uma conferência, marcada por um espírito republicano inflamado, que ficou na memória de quem a escutou e que encheu o primeiro número do semanário Alvorada, dirigido por A. L. de Carvalho. O tema sobre que falou foi “A obra social da República”. Aqui fica um pequeno extracto, em que se refere, nomeadamente, à Sociedade Martins Sarmento:

Cidadãos de Guimarães: eu amo profundamente, entranhadamente, a minha terra, a nossa terra. A ela me prendem afectos de família. Nela sonhei os primeiros sonhos, nela criei as primeiras ilusões. Às vezes, cerro os olhos e evoco o passado. Tristemente, evoco-o. E sombras surgem, sombras de mortos, sombras de afastados. Dentre as primeiras, deixem-me citar uma: Amadeu de Freitas, carácter nobre, amigo leal que tantas vezes me consolou em horas amargas, que tantas vezes me acompanhou em horas alegres. Dentre as segundas, Gonsalo de Meira, outro amigo desinteressado desta terra, acompanhando-a sempre, desejando-a progressiva, feliz e culta. E se me é lícito sair do âmbito dai minhas relações pessoais, eu friso um nome, glorioso nome, a única legítima glória vimaranense: Martins Sarmento. Quando eu subia a encosta da vida, descia-a ele: não nos encontrámos.

Sarmento, a quem a falta de uma educação filosófica sistemática grandemente prejudicou - viveu afastado dos seus cidadãos. O seu nome, todavia, é grande. E os meus amigos têm obrigação de respeitá-lo. Está aí a Sociedade Martins Sarmento. Não a abandonem. Protejam na. Entrem lá dentro, cerquem-na de afectos. (Aplausos) Olhem por ela. Ela foi fundada com um espírito eminentemente democrático, para espalhar a instrução pelo concelho. Mas hoje está convertida numa sacristia. (Aplausos calorosos) Vão lá dentro, rasguem aquelas opas, apeiem aqueles deuses, abram as janelas para que entre o ar e a alegria! (Intensos e prolongados aplausos.)

É essa a maior homenagem, a mais nobre que podem prestar a Sarmento que, se pudesse ver o que por cá se passa, choraria a estas horas lágrimas de raiva e de vergonha.

Meus correlegionários: tenho diante de mim um povo admirável; não o abandonem; liguem-se a ele; indiquem-lhe o caminho a seguir; acompanhem-no e ele me ajudará a fazer de Guimarães uma grande cidade na República! (Apoiados).

in Alvorada, n.º 1, 1.º ano, Guimarães, 27 de Novembro de 1910

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