A exma. câmara resolveu, em sessão de quarta-feira, não abraçar a lembrança da comissão do monumento a D. Afonso Henriques, para que fosse lançada solenemente a primeira pedra no dia 6 de Dezembro, porque exigindo a inauguração solene de um monumento ao fundador da monarquia festejos brilhantes que causariam avultadas despesa, não tem no seu orçamento verba para acorrer a tais despesas.
Não publicamos no n.º anterior do nosso jornal esta resolução, por nos ter sedo fornecida um pouco mais tarde.
Agora duas palavras acerca da resolução do senado vimaranense.
Se chamarmos à resolução da câmara - um desastre camarário - não aberramos muito da verdade, porque realmente a resolução foi um desastre.
Lamentamo-lo e lamentamo-lo profundamente
Não tinha verba para acorrer às despesas da solenidade, mas estaria impossibilitada de pedir, pelas vias competentes, autorização para essa verba? Se lhe fosse negada, sobre quem cairia o ridículo?
Agora aproveite-se a lição: enquanto que a Câmara de Guimarães não abraça a lembrança da comissão do monumento, Coimbra, que guarda as cinzas do D. Afonso Henriques, prepara-se para celebrar o centenário. Ouçamos o “Conimbricense”:
Quando no dia 19 do corrente veio a nossa rasa felicitar-nos o conselho administrativo da Associação dos Artistas, aproveitámos a ocasião para lhe expor o dever que entendíamos ter a cidade de Coimbra de por algum modo comemorar o próximo 7.° centenário do fundador da nação portuguesa; e lhe lemos o artigo que a esse respeito já tínhamos escrito, e vai hoje publicado no primeiro lugar deste número do Conimbricense.
Lembramos-lhe que festejando Associação dos Artistas o aniversário da sua fundação no dia 8 de Dezembro, podia muito facilmente celebrar-se esse acto no domingo 6 do mesmo mês, reunindo-se assim as duas comemorações - a da Associação dos Artistas, e a do centenária de D. Afonso Henriques.
Saindo de nossa casão referido conselho administrativo reuniu-se imediatamente em sessão extraordinária, e por unanimidade decidiu aceitar a nossa indicação e reunir no dia 6 as duas comemorações; o que nos foi logo comunicado, e com o que muito folgámos.
Assim está dado o primeiro passo; e esperamos que as outras associações façam também da sua parte o que puderem, para que a cidade de Coimbra pague dignamente esta dívida de gratidão àquele guerreiro, a quem devemos, primeiro do que a ninguém, o sermos hoje uma nação independente. - Joaquim Martins de Carvalho.
Além do que deixámos transcrito, o nosso prezado colega traz um excelente artigo a respeito do centenário, que publicaremos no próximo número.
Depois disto só nos resta esperar pelo procedimento da comissão.
- Do Porto e de outras localidades têm chegado numerosas cartas a diferentes indivíduos desta
cidade, pedindo esclarecimentos a respeito da celebração do centenário.
- Por falta de espaço e de tempo não responderemos ao nosso apreciável colega da “Religião e Pátria”, mas recomendamos-lhe a leitura do “Conimbricense”.
Vimaranenses, hurrah pelo centenário! Assim como os habitantes de Coimbra não se arreceiam dos dias frios e chuvosos, assim também os habitantes do Guimarães devem mostrar que o patriotismo, a dignidade do Berço da monarquia portuguesa estão acima dos frios e das chuvas de Dezembro!
Connosco pensa muita gente séria e de senso!
Vimaranenses! hurrah pelo centenário!
O Comércio de Guimarães, n.º 140, 2.º ano, 23 de Novembro de 1885
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