Guimarães antiga II

Não havia iluminação pública, de maneira que quando à noite me mandavam levar qualquer encomenda ao estafeta, eu atravessava este largo do Toural com o Credo na boca e a cada passo me encharcava nas poças de água que por aqui havia!!

Era neste largo onde o regimento 18 fazia exercício, mas às vezes também o coronel Pereira lhe passava revista ali no largo da Misericórdia.

Vinha o regimento formado lá de cima dos quartéis com a música, na frente e parava junto da casa dos coutos onde morava o coronel.

Ele saía de casa e ali mesmo lhe passava revista.

Que bonito aquilo era. Hoje não se vê disso.

* * *

– E as portas da cidade? Uma ali à esquina do Bernardino.

Chamava-se o “Postigo”.

Outra à porta da Vila, outra a S. Bento e outra à “Torre dos cães”.

Todas se fechavam à noite, ao toque do recolher, e o sino da Oliveira dava sinal.

* * *

O que tinha graça era o modo de acender os lampiões da iluminação, quando foram postos aí nalgumas ruas.

Aqui no Toural havia dois, na Alfândega outros dois, à Senhora da Guia outros dois etc. Andava um homem com a chave de um cadeado; chegava, abria-o o puxava por uma corrente, o lampião descia; depois do o acender tornava a puxar pela corrente o lampião subia e lá ficava no alto dando uma luz lindíssima não inferior à de hoje “em certas noites”.

Vieram mais tarde os candeeiros de petróleo, e nós julgávamos que superior a isso, nada viria.

(continua)

António Infante
Ecos de Vizela, 1.º ano, n.º 16, 1 de Dezembro de 1904

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