As Nicolinas de 1868 - II

À MORTAL DECADÊNCIA

DA

FESTA DO S. NICOLAU

Por entre as alas de inquietos vultos,

Que evocam do sepulcro a gran princesa,

Escoam estas sombras, não sepultos

Os restos dessa antiga realeza…

Sabeis já quem morreu...? oh! sim foi ela!!

A virgem coronal, a Virgem bela!

Nascida da ciência e da alegria,

Viu tronos baquear, gemer reinados;

Viu à pátria faltar a luz do dia,

Viu sábios a correr de alienados;

Viu guerras devastar o pátrio solo,

E a virgem não caiu... ergueu seu colo!

Mas ai! festa escolar, por ti, amor,

Tributo de saudade o peito anima;

Tristonho funeral, intensa dor

A sorte que tiveste aqui lastima!

= Mas se além do sepulcro alta nobreza

Te cabe inda por glória do passado,

Não queiras lá na campa uma vileza,

- Da terra ergue teu braço descarnado,

E mesmo morta, repele, ò cara amante,

Profano versejar de algum pedante!

- Se a frase lhes doer, tenham paciência;

É a magoa, é o orgulho da ciência!

Os filhos de Minerva, a morte escura,

Com duplicado dó vão prantear;

Às damas que os amavam com loucura

Seu delirante amor patentear,

E a ti flor de lágrimas formada,

Que por eles, qual foste, inda és amada!

………………………………………..

Vós, gémeas da beleza, sabeis quanto

Era o afecto nosso deste dia…?

Por certo não esqueceis, lembrais o encanto,

“Onde o menino as almas acendia”.

Pois tudo tem seu fim; a lei mesquinha.

Nem os pastéis poupou da Joaninha!

Lá se vai de maçãs a grata oferta

Em que amor os segredos ocultava!

Não se lembra, menina, há-de estar certa

Do que dentro do pomo se encontrava?

Pois até nos vão levar este caminho,

Por onde a pega já fez e faz seu ninho!

………………………………………..

Correi por esta festa já mirrada

Ò tristes, bem sentidos prantos meus;

Carpideiras, erguei voz magoada,

- À virgem coronal dizei… adeus!

Tambores esconjurai quem à finada

Vier prantos votar de fariseus,

Que na campa em palmito, tem capela

Quem como ela viveu, morreu donzela!

O Vimaranense, n.º 545, 7.º ano, Guimarães, 11 de Dezembro de 1868

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