DA
FESTA DO S. NICOLAU
Por entre as alas de inquietos vultos,
Que evocam do sepulcro a gran princesa,
Escoam estas sombras, não sepultos
Os restos dessa antiga realeza…
Sabeis já quem morreu...? oh! sim foi ela!!
A virgem coronal, a Virgem bela!
Nascida da ciência e da alegria,
Viu tronos baquear, gemer reinados;
Viu à pátria faltar a luz do dia,
Viu sábios a correr de alienados;
Viu guerras devastar o pátrio solo,
E a virgem não caiu... ergueu seu colo!
Mas ai! festa escolar, por ti, amor,
Tributo de saudade o peito anima;
Tristonho funeral, intensa dor
A sorte que tiveste aqui lastima!
= Mas se além do sepulcro alta nobreza
Te cabe inda por glória do passado,
Não queiras lá na campa uma vileza,
- Da terra ergue teu braço descarnado,
E mesmo morta, repele, ò cara amante,
Profano versejar de algum pedante!
- Se a frase lhes doer, tenham paciência;
É a magoa, é o orgulho da ciência!
Os filhos de Minerva, a morte escura,
Com duplicado dó vão prantear;
Às damas que os amavam com loucura
Seu delirante amor patentear,
E a ti flor de lágrimas formada,
Que por eles, qual foste, inda és amada!
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Vós, gémeas da beleza, sabeis quanto
Era o afecto nosso deste dia…?
Por certo não esqueceis, lembrais o encanto,
“Onde o menino as almas acendia”.
Pois tudo tem seu fim; a lei mesquinha.
Nem os pastéis poupou da Joaninha!
Lá se vai de maçãs a grata oferta
Em que amor os segredos ocultava!
Não se lembra, menina, há-de estar certa
Do que dentro do pomo se encontrava?
Pois até nos vão levar este caminho,
Por onde a pega já fez e faz seu ninho!
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Correi por esta festa já mirrada
Ò tristes, bem sentidos prantos meus;
Carpideiras, erguei voz magoada,
- À virgem coronal dizei… adeus!
Tambores esconjurai quem à finada
Vier prantos votar de fariseus,
Que na campa em palmito, tem capela
Quem como ela viveu, morreu donzela!
O Vimaranense, n.º 545, 7.º ano, Guimarães, 11 de Dezembro de 1868
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