As Nicolinas de 1868 - I

Folguedos escolásticos. – Estiveram animados este ano os folguedos escolásticos. Diversas causas concorreram para isso, as quais não vem aqui a pêlo em a narração deles.

Arvorada no Toural a bandeira escolástica, no dia29, seguiram-se depois algumas madrugadas em que percorreu as ruas da cidade uma banda de música. Na noite de 4 para 5 foi o clássico magusto, e a recepção das inauferíveis posses. No dia 5 de manhã aparecem já na rua alguns máscaras, notando-se um que cavalgava em mazelento burro, mas que recitava um chistoso aranzel tendente a dispor os ânimos para receber o bando que de tarde devia sair anunciando a festa do dia seguinte. Saiu este com efeito, recitado por um académico, e acompanhado por mais alguns, que se mostravam em carros, cabendo as honras do barulho em tambores aos estudantes de menos idade. No dia 6 de manhã, pelas 11 horas, entrou na cidade, vindo de Santo Estêvão de colher a renda, uma vistosa cavalgata, acompanhada por uma banda de música, e distribuindo pelas damas oferendas do que ali colheram – maçãs, nozes, castanhas, etc.

De tarde, apareceram na rua dois bailes e algumas exibições.

Destas tornou-se notável a que aludia ao passado esplendor destes folguedos, e à palpável decadência deles nestes últimos anos. Vestiam de luto alguns mascarados, acompanhando, de archotes acesos, campainhas soando lugubremente e tambores cobertos de crepe, um carro em que vinham outros mascarados, um dos quais recitava uma poesia que vai publicada em outro lugar.

Esta exibição, mal interpretada, ofendeu algumas briosas susceptibilidades, que à noite se apresentaram na rua recitando uns versos insultantes e desbragados. A autoridade, conhecedora disto, interveio, fazendo recolher os que por este modo andavam provocando desordens. Honra lhes seja por isso,

E deste modo finalizaram os folguedos escolásticos que, como se vê, tiveram este ano mais animação que nos anos anteriores.

Religião e Pátria, n.º 5, 9.ª série, Guimarães, 9 de Dezembro de 1868.

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