As Nicolinas de 1857

S. Nicolau. – Este festejo escolástico não foi tão pomposo e agradável como se esperava e estava premeditado; isto não só por ocorrências inesperadas, mas também por melindres e caprichos, na nossa opinião, mal entendidos. Se não pertencêssemos a esta ilustre classe, talvez não pugnássemos tanto pelo seu crédito; e, se notamos defeitos, é só com o fim de os vermos remediados. O público está acima de tudo, e o público não tem culpa nas ofensas ou caprichos dos particulares.

O pregão anunciador do festejo ia vistoso e magnífico. A figura de Camões seguida daquelas que representavam as faculdades da Universidade de Coimbra, mostravam o apreço que as ciências e a literatura dão ao nosso primeiro poeta. – Se haviam de alterar o programa, deviam também mudar a hoa da saída, porque em muitas partes deixou ele de ser ouvido, e quando mesmo o Pregoeiro tivesse peito de bronze, e não se achasse tão incomodado, com se achou, só altas horas da noite poderia terminar, satisfazendo aos desejos de todos.

O dia do festejo só se conheceu às duas horas da tarde, tempo em que entrou na praça do Toural o Corpo Escolástico representando a entrada de Vasco da Gama em Lisboa na sua volta da descoberta da Índia. – O préstito do nosso herói era composto dos seus companheiros de armas todos vestidos no trajo da época 1500, e de quatro melindianos, representando estes o bom acolhimento que Vasco da Gama teve em Melinde, e a amizade começada entre o Rei daquele país e o Rei de Portugal. – Seguiram-se duas danças; uma de damas, figurando o prazer de muitas belas pelo regresso dos heróis que lhes estavam destinados, outra de portugueses e melindianos, significando o prazer dos dois povos por sua mútua amizade.

À noite, no teatro, que estava cheio, foi Vasco da Gama coroado de louros na presença de Minerva; seguindo-se a representação de duas comédias que foram bem desempenhadas, e os intervalos foram cheios com danças, e poesias, terminando assim o festejo escolástico do S. Nicolau.

A comissão promotora dos festejos teve a delicadeza de pedir às damas desculpa de suas faltas.

A Tesoura de Guimarães, n.º 129, Guimarães, 11 de Dezembro de 1857

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