Os nomes de Guimarães: Araduca

No início de um texto muito interessante sobre o Claustro da Colegiada de Guimarães, publicado em 1905, na Revista de Guimarães, João de Meira escreve que

A origem do núcleo de população que devia ser mais tarde a vila e depois a cidade de Guimarães foi, no século XVII e seguintes, quando se tentou escrever a nossa história sem documentos e sobretudo sem critério, objecto das mais extravagantes e mais desencontradas fantasias.

Esta afirmação é o ponto de partida para uma digressão pelos nomes de Guimarães, que se estende por uma longa nota, que aqui iremos transcrever:

O padre Torcato Peixoto nas Memórias Ressuscitadas da antiga Guimarães, pág. 152, diz: «Outros lhe chamam Leobriga que quer dizer cidade forte. Outros Latica: cidade escondida ou Lactis pela relíquia que teve do leite de Nossa Senhora. Alguns a nomeiam Columbina ou Catheleucus como Jeronymo Rozel, Italiano. Muitos lhe chamam cidade de Santa Maria”. O padre Caldas, Guimarães, apontamentos para a sua história, vol. I, pág. O e 7, reproduz e acrescenta: «e ainda segundo Francisco Craesbeck e outros muitos Aradiva: lugar de sacrifícios aos deuses; Apolónia cidade de Apolo; Celeobriga, etc. ».

«... a variedade da fundação de Guimarães alcança a denominação do seu próprio nome. A poucos passos lhe vemos o nome de Araduca uniformemente seguido por espanhóis e portugueses. Alguns modernos encontram esta denominação pela equiparação de Hieronimo Ruscelli, que faz Araduca paralela à boca do rio Douro, mais oriental um grau, tendo um grau dezassete léguas de distancia e havendo do Porto a Guimarães só oito, vem a concluir que não é Guimarães Araduca. Peca o argumento na computação geográfica, pois são diferentes as medições da equinocial para os pólos da medição de leste a oeste, e como a distância das dezassete léguas seja só de latitude e a de leste a oeste oriental não tenha esta medição, já o argumento fica claudicando e não tem lugar o governar pela distância das dezassete léguas. A distância oriental de longitude se regula pelos eclipses, pondo o ponto nas Ilhas Canárias; nesta há sete opiniões para a medição; a mais comum importa cinco léguas e nesta distância fica compreendido o argumento.

Convence-se também esta consideração da distância das léguas, porque a medição destas se regula pelas linhas polares e não pela distância de lugar a lugar, como se vê das tábuas de Ptolomeu onde a distância de lugar a lugar tem outras regras de medição. A graduação dos modernos constituo a boca do rio Douro em 42 graus de altura, Araduca em 41, 50 minutos e sendo só 10 minutos de diferença erra o computo que lhe dá 1 grau de distância e nele dezassete léguas.

Confirma-se porque a cidade de Braga constituem os geógrafos em 43 graus, Viana em 43 graus, Amarante em 42 graus, já se encontram todas se se houverem de medir pela distância de dezassete léguas que no argumento se consideram.

Alguns historiadores constituem Araduca em Amarante junto do Douro, outros no Lima; seguem estes as tábuas de Ptolomeu reformadas pelo padre Resciolo que assinala três Araducas, uma no Douro, outra no Lima, outra no Ave; fiquem embora com as do Douro e do Lima e deixem-nos a do Ave que é Guimarães, pois esta só se acha assinalada nas tábuas antigas de Ptolomeu; e por conseguinte fique Guimarães com o título de Araduca sem o encontro da medição das dezassete léguas com menos advertência cosmográfica considerado.

João de Meira, O Claustro da Colegiada de Guimarães. Revista de Guimarães n.º 22, 1905, p. 39-56.

[continua]

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