Guimarães na feliz restauração de 1808 (5)

D. João VI. Gravura da Col. da Sociedade Martins Sarmento.

Para prover à defesa da vila, logo envidou esforços Rodrigo Vieira Borges de Campos, Abade Reservatário de S. Paio de Vizela, que conseguiu da Junta Suprema do Porto duas peças de artilharia que deveriam ser usadas para defender Guimarães.

Como Loison, vindo pela Beira Alta, mostrava tenções de se dirigir em direcção ao Porto, as forças de Guimarães partem para Amarante para lhe fazer frente. Eram compostas pelo Batalhão dos Privilegiados, pelo Regimento de Milícias de Guimarães, entretanto reorganizado e comandado pelo coronel António Cardoso de Menezes, e por uma companhia formada por duas centenas de jovens voluntários. Na tarde do dia 21 de Junho, já Loison estava em Mesão Frio, repousando a meio da sua marcha triunfal em direcção ao Porto, quando recebeu a notícia de que o Norte se levantava contra os franceses. Depois de algumas hesitações, decide recuar, em vez de seguir rumo a Amarante.

Quando a hoste vimaranense chega a Mesão Frio, na tarde do dia 22, de Loison e a sua tropa já só encontra o rasto e alguns despojos, entre os quais três fardas de general, duas das quais seriam trazidas para Guimarães. Os de Guimarães participaram na perseguição aos franceses em retirada, causando-lhes pesadas baixas quando tentavam a travessia do Douro, na Régua. No dia 23, estavam em Lamego. Viriam a travar uma batalha encarniçada na Póvoa de Juvantes, a duas léguas daquela cidade, na qual se destacaria o célebre Monsenhor Miranda. Com ele estava um dos célebres “frades brancos”, Frei António Pacheco(1), de S. Domingos de Guimarães, de quem Luz Soriano, numa nota em que cita José Acúrsio das Neves, disse:

“Foi ele que combateu contra o general Loison na sua intentada expedição da Régua, indo na coluna de Guimarães. Foi ele o que na sua volta levou uma das fardas de que acima se fez menção, depositando-a no tempo de Nossa Senhora da Oliveira, onde com ela na mão subiu ao púlpito, e batendo-lhe com um pau, entusiasmou o povo."(2)

Deixando atrás de si um rasto medonho de destruição, que perduraria na memória das gentes e se consagraria na expressão ir para o maneta, os franceses batiam em retirada. Como escreveu Vasco Pulido Valente, “pela primeira vez, «os gloriosos conquistadores da Europa» fugiam"(3). Espalhavam terror por onde passavam, fugindo de gente mal munida de armas, mas carregadas de ira contra o usurpador. Fugiam também da combativa e memorável hoste de Guimarães de 1808.



(1) É o autor da História Crítica dos Franceses em Portugal durante os anos de 1870-1808 e 1809, um manuscrito com cerca de 700 páginas de que adiante se dá notícia num texto de Manuel Mendes, publicado em 1959, na Revista de Guimarães.

(2) Simão José da Luz Soriano, História da guerra civil e do estabelecimento do governo parlamentar em Portugal, comprehendendo a história diplomática, militar e política deste reino desde 1777 até 1834: guerra da península, Imprensa Nacional, Lisboa, 1870, pág. 264

(3) Vasco Pulido Valente, Ir prò maneta. A Revolta contra os Franceses (1808), Alêtheia Editores, Lisboa, 2007, pg. 67.

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