No dia 16 de Junho de 1808, dia do Corpo de Deus, houve festa em Guimarães, onde já foram explícitas as manifestações de desafio ao usurpador. Circulavam notícias de que, em Bragança, o velho General Sepúlveda se havia colocado à frente da sublevação contra os franceses. Na festa vimaranense desse ano, não faltou quem ostentasse no chapéu o laço que simbolizava a soberania portuguesa. As manifestações anti-francesas prolongaram-se pelo dia seguinte, com música, luminárias e ladainhas.
O dia 18 seria o dia do levantamento em Guimarães. A iniciativa de convocar o povo para aclamar o príncipe regente fora do Corregedor da Comarca, António Manuel Borges:
“Foi ele que de seu moto próprio e por efeitos de puro patriotismo e fidelidade mandara convocar o povo da vila em 18 de Junho pelo seu escrivão José António de Miranda, e por seu meirinho Plácido Machado Pereira, para que pelas 4 horas da tarde se achasse no largo de N. Senhora da Oliveira, e o que aí em companhia de Monsenhor Miranda levantou a voz: Viva o nosso Príncipe, e vivam os portugueses."(1)
Após a aclamação de D. João como legítimo Príncipe Regente de Portugal, as ruas foram percorridas por um grande cortejo, no qual os retratos da família real foram conduzidos debaixo de um pálio.
No dia seguinte, 19, teve lugar uma nova procissão, à qual acorreu a população em massa, nela se incluindo clero, mulheres e crianças, em armas, todos prontos a contribuirem para a expulsão do invasor. Logo nesse dia se começou a organizar o célebre “Batalhão dos Privilegiados das Tábuas Vermelhas”. Numa reunião que teve lugar no dia 20, onde estiveram presentes todas as autoridades da Vila de Guimarães, organizaram-se as forças que iriam entrar em combate contra os franceses: reactivou-se o Regimento de Milícias; mandaram-se armar as ordenanças de toda a Comarca, que deveriam colocar-se sob o comando do capitão-mor da vila, Francisco Cardoso de Menezes Barreto; foram lançados editais a convidar “os honrados e abonados cidadãos” a formarem um corpo de voluntários de Infantaria, sob comando de Gaspar Teixeira de Magalhães e Lacerda, futuro Visconde do Peso da Régua, ao qual se deveria reunir um contingente de soldados a cavalo, que foi pedido ao general da Província de Trás-os-Montes. A estas forças, deveria juntar-se uma outra, um corpo de defesa constituído por membros das comunidades religiosas, que receberia instrução ministrada por oficiais indicados pela Junta Provisória de Guimarães.
À frente do Batalhão dos Privilegiados foram colocados o coronel de milícias João Couto Ribeiro de Abreu e o Monsenhor Pedro Machado de Miranda Malheiro. Na mesma altura, foi instituída a Junta Provisória de Guimarães, que seria composta pelo Desembargador Manuel marinho Falcão, pelo Corregedor António Borges e pelo Juiz de Fora José Freire de Andrade, os quais, desde logo, defendem que, em vez de se adoptar uma postura de defensiva em relação à eminência da resposta dos franceses, se deveria avançar numa ofensiva contra os invasores.
No dia 22, foi recebido em Guimarães um decreto da Junta do Supremo Governo do Porto, datado do dia 19, em que se declarava abolido o governo francês:
“Em nome do Príncipe Regente de Portugal. A Junta do Supremo Governo. Faz saber a vós Corregedor da Comarca de Guimarães que o Governo Francês se acha inteiramente abolido e exterminado deste País e restituído nele a Real Autoridade do Nosso legítimo Soberano, a qual será exercitada plena e independentemente pela sobredita Junta enquanto não for restituído neste Reino o Governo deixado e instituído por S. Alteza Real em consequência do que ordena a mesma Junta, que o dito Real Senhor seja aclamado e as Suas Reais Armas descobertas e respeitadas nessa Comarca como sempre foram e hão-de ser, e que todas as autoridades constituídas obrem nesta conformidade, expedindo-se todas as ordens no Seu Real Nome: o que se vos participa para que executeis e façais executar, participando-o às Câmaras dessa Comarca. Porto 19 de Junho de 1808. Bispo, Presidente Governador. Ao Corregedor da Comarca de Guimarães. Pelo Príncipe Regente N. Senhor.”
Os vimaranenses não tinham aguardado pela ordem. Por essa altura, em terras de Guimarães o Príncipe Regente já estava aclamado e as armas reais portuguesas estavam a descoberto.
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