
Circula, nomeadamente em blogues vimaranenses, uma petição promovida pela JSD local para que seja dada mais solenidade ao dia 24 de Junho, enquanto “Dia da Fundação de Portugal”. A iniciativa é estimável e bem intencionada, mas parece-me eivada de algum voluntarismo que a torna potencialmente contraproducente, o que parece aconselhar um pouco mais de ponderação e melhor fundamentação.
O que se pede no abaixo-assinado é “que o dia 24 de Junho de 1128 seja reconhecido, tal como outras efemérides nacionais, de uma forma própria, com a solenidade devida e com a dignidade que a data da Fundação de Portugal merece, transferindo para esta data o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”. A associação de Camões ao 24 de Junho, dia em que se comemora a Batalha de S. Mamede, não parece que faça grande sentido: nada do que se conhece da biografia de Camões o associa àquela data e nada do que se conhece da obra camoniana nos remete para a Batalha de S. Mamede. Aquilo que Camões veicula, em Os Lusíadas (Canto III, estâncias 42 a 53), é a ideia da origem mística de Portugal, associada ao milagre de Ourique, que prevaleceu em Portugal desde o dealbar da dinastia de Avis até Alexandre Herculano. Foi o historiador de Vale de Lobos quem defendeu que em 24 de Junho estava desencadeada uma revolução que “equivalia a uma declaração formal de independência” [A. Herculano, História de Portugal, Ed. de 1980 (Bertrand), tomo I, pág. 399]. A partir de Herculano, bem depois de Luís de Camões, é que começou a prevalecer a tese de que a independência começa a existir a partir de 1128. No 24 de Junho é Afonso Henriques que se celebra, não Luís de Camões. Ou muito me engano, ou uma associação tão pouco ajustada pode ser susceptível de fazer ruir a ideia.
(A propósito, na petição lê-se o seguinte: Segundo Alexandre Herculano, Portugal nasceu “naquela tarde de 24 de Junho de 1128, nos Campos de S. Mamede, junto ao Castelo de Guimarães”. Bem a procuro, mas ainda não consegui descobrir em que obra é que Herculano terá escrito a expressão que aparece entre aspas. Será que foi mesmo o historiador de Vale de Lobos que escreveu aquilo?)
Por outro lado, a proposta para elevar o 24 de Junho a feriado nacional pode gerar alguns anti-corpos que se podem virar contra quem a apresentar. A substituição do 10 de Junho por aquela data implicará, como já vimos algures, o desaparecimento do feriado municipal de Guimarães. Mas não só o de Guimarães, uma vez que aquele dia ocupa o top entre os feriados municipais portugueses, ocorrendo em nada menos que quarenta concelhos. Operar a transferência pretendida implicaria que boa parte dos portugueses passassem a ter menos um dia de feriado por ano. O que não me parece lá muito simpático…
O que se pede no abaixo-assinado é “que o dia 24 de Junho de 1128 seja reconhecido, tal como outras efemérides nacionais, de uma forma própria, com a solenidade devida e com a dignidade que a data da Fundação de Portugal merece, transferindo para esta data o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”. A associação de Camões ao 24 de Junho, dia em que se comemora a Batalha de S. Mamede, não parece que faça grande sentido: nada do que se conhece da biografia de Camões o associa àquela data e nada do que se conhece da obra camoniana nos remete para a Batalha de S. Mamede. Aquilo que Camões veicula, em Os Lusíadas (Canto III, estâncias 42 a 53), é a ideia da origem mística de Portugal, associada ao milagre de Ourique, que prevaleceu em Portugal desde o dealbar da dinastia de Avis até Alexandre Herculano. Foi o historiador de Vale de Lobos quem defendeu que em 24 de Junho estava desencadeada uma revolução que “equivalia a uma declaração formal de independência” [A. Herculano, História de Portugal, Ed. de 1980 (Bertrand), tomo I, pág. 399]. A partir de Herculano, bem depois de Luís de Camões, é que começou a prevalecer a tese de que a independência começa a existir a partir de 1128. No 24 de Junho é Afonso Henriques que se celebra, não Luís de Camões. Ou muito me engano, ou uma associação tão pouco ajustada pode ser susceptível de fazer ruir a ideia.
(A propósito, na petição lê-se o seguinte: Segundo Alexandre Herculano, Portugal nasceu “naquela tarde de 24 de Junho de 1128, nos Campos de S. Mamede, junto ao Castelo de Guimarães”. Bem a procuro, mas ainda não consegui descobrir em que obra é que Herculano terá escrito a expressão que aparece entre aspas. Será que foi mesmo o historiador de Vale de Lobos que escreveu aquilo?)
Por outro lado, a proposta para elevar o 24 de Junho a feriado nacional pode gerar alguns anti-corpos que se podem virar contra quem a apresentar. A substituição do 10 de Junho por aquela data implicará, como já vimos algures, o desaparecimento do feriado municipal de Guimarães. Mas não só o de Guimarães, uma vez que aquele dia ocupa o top entre os feriados municipais portugueses, ocorrendo em nada menos que quarenta concelhos. Operar a transferência pretendida implicaria que boa parte dos portugueses passassem a ter menos um dia de feriado por ano. O que não me parece lá muito simpático…
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