É prova João Rebelo Leite, o Lidador vimaranense, irmão do Padre Torcato Peixoto de Azevedo autor das “Memórias ressuscitadas da antiga Guimarães”, cuja biografia pode ver-se no número 27 do “Espectador”, filho de João Rebelo Leite e D. Isabel Peixoto de Azevedo.
Nascera o nosso ilustre patrício no começo do ano de 1621 e aos dezanove anos de idade acompanha seu pai, capitão de ordenanças de Guimarães, a Lamas de Mouro, Melgaço, onde recebendo dos castelhanos oito feridas, é preso e conduzido ao hospital de Pontevedra e daí a Compostela, onde pôde escapar-se.
Tam contratempo mais lhe acendeu no ânimo o desejo de marchar contra os inimigos da pátria e por isso passou a servir no exército do Alentejo. Aqui uma bala lhe atravessou uma perna no ataque de Villa Nova del Tresna em 1643.
Em 1644 foi um dos quatrocentos infantes eu entraram na praça de Elvas, atravessando corajosamente por entre os inimigos que a sitiavam.
Em 18 de Setembro de 1646 é nomeado capitão de infantaria e, reformada a companhia que comandava, esteve, embora capitão reformado, na batalha do Montijo.
Passando novamente a servir no Minho, foi nomeado sargento-mor de um terço volante, depois governador da praça de Valença, onde valorosamente resistiu a diversos ataques dos espanhóis, e mais tarde, por nomeação régia, sargento-mor do terço pago.
Por este tempo dou provas da sua piedade castigando severamente um dos soldados que o haviam acompanhado à Galiza a que se atrevera a saquear o sacrário dum templo. Com toda a pompa restituiu aos espanhóis as santas partículas, fazendo uma brilhante procissão até à Igreja.
É então nomeado Tenente de Mestre de Campo general do exército do Minho em cujo posto, à custa de seu sangue desenvolvendo singular prudência, recuperou a praça de Lindoso.
Tantos serviços lhe mereceram a nomeação régia de Mestre de Campo Ada honorem por patente de 15 de Janeiro de 1664. Esta honrosíssima distinção não O fez conservar inactivo, antes o vemos acompanhando a D. Francisco de Sousa, governador do Minho, nos ataques a Fragoso, Lourinho, Boaças, Porrinho e no sítio da Guardiã, onde, comandando um terço, foi ferido tão gravemente que ficou aleijado.
Um certificado do governador declara que o nosso honrado e valente patrício teve o primeiro lugar e estimação do exército
Uma tão longa carreira terminou a 2 de Outubro de 1667, dia em que faleceu cheio de honra e glória, sendo por isso com toda a justiça, que O Padre Caldas na sua obra “Guimarães, apontamentos, etc.” lhe dá a antonomásia do Lidador Vimaranense.
Consulte-se a “H. de Portugal Restaurado” do conde de Ericeira, bem como as “Memórias ressuscitadas da Antiga Guimarães”.
[João Gomes de Oliveira Guimarães, in O Espectador, n.º 49, Guimarães, 9 de Outubro de 1884]
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