O baile do Visconde de Margaride

Vista actual da Casa do Conde de Margaride (fonte: Virtual Earth)

O memorável baile do aniversário do então Visconde de Margaride, realizado no seu palacete, no Largo do Carmo (hoje Martins Sarmento), que teve lugar na noite de 8 para 9 de Janeiro de 1874, e que seria objecto de uma crónica satírica de Camilo Castelo Branco, foi noticiado como se segue, no jornal Religião e Pátria do dia 10 daquele mês:


Baile

Na noite de quinta para sexta-feira teve lugar o magnífico baile com que o sr. Visconde de Margaride quis obsequiara os seus amigos pessoais e políticos de todo o distrito no dia do seu natal.

Às 10 horas da noite os aposentos destinados a tão esplêndida festa estavam cheios de convidados, e por essa hora também grande massa de povo parava defronte do palacete dos srs. viscondes de Margaride, para ver entrar o grande número de concorrentes ao baile e para gozarem as escolhidas peças de música que a banda marcial do regimento de infantaria n.º 3 executava com mestria, tocando a um palanque formado de transparentes e que brilhantemente iluminados e erguia a um dos lados do terreiro, Para cima de trezentas pessoas entre damas e cavalheiros tomaram parte em tão luzido divertimento, que durou desde as 9 horas da noite de quinta-feira até às 7 da manhã seguinte. A esta hora quem atravessasse aquela parte da cidade ouvia ainda a harmonia cadenciada da excelente orquestra que tocava ao movimento das variadas danças, que durante toda a noite se entredançaram com gracioso donaire, com júbilo, com louca animação.

A casa achava-se decorada com riqueza, brilho e excelente disposição. Era de um efeito surpreendente o jubiloso espectáculo daquela festa quando na sua hora mais animada se deparava na cabeceira da primeira sala em todo o espaço iluminado a centenares de luzes que se reflectiam nos riquíssimos adornos, em todo o espaço, dizemos, das alas em corrente onde a festa reinava com todos os seus esplendores.

É escusado dizer que o serviço foi mimoso, asseado, abundante e oferecido com aquela nobre expansão que caracteriza os ilustres viscondes. Os mais apelidados manjares, os mais finos e apurados vinhos, a par das mais delicadas iguarias e gelados, tudo ali se ofertava aos convidados, e em tão boa ordem que nada deixava a desejar.

Autoridades civis e militares de quase todos os pontos do distrito de Braga e algumas ainda do distrito do Porto; clero, aristocracia, comércio, tudo tinha nesta festa dignos representantes.

Era perto da meia-noite quando ainda a banda marcial anunciava a entrada de algumas damas, vindas propositadamente naquela ocasião do Porto e de Braga.

Se os cavalheiros se apresentaram todos, como efectivamente se apresentaram, primorosamente vestidos, as senhoras, tomando esse dia como de verdadeira gala para não perderem o estimável título da graça e do bom gosto que por toda a parte as celebra e enobrece. Primor, mimo, brilho, asseio, riqueza e bom gosto tudo nelas se dava em brilhante exposição, atraindo as vistas dos numerosos cavalheiros que pejavam as salas.

Como prova oferecemos humildemente aos leitores os leves apontamentos que pudemos tomar entre a vertiginosa e constante agitação duma festa como esta. (...)

Segue-se uma curiosa descrição dos trajes das senhoras que participaram no baile, que se estenderá pelo número seguinte do jornal.

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