Do Toural: o último debate

Ontem, o projecto para o Toural e para a Alameda esteve novamente em discussão. O debate do Centro Cultural Vila Flor foi algo diferente do realizado na Sociedade Martins Sarmento, menos emotivo, com os técnicos a assumirem uma postura mais serena e aberta aos diferentes contributos que iam surgindo de um público igualmente interessado, mas em menor número do que na sessão anterior.

A primeira nota que aqui se regista é a evidência de que os técnicos, em especial o arquitecto Fernando Seara de Sá, têm muito mais certezas do que os decisores políticos, nomeadamente o Presidente da Câmara, António Magahães.

Com mais esta sessão, há perguntas que já foram colocadas e que continuam sem resposta, em particular as que se referem aos estudos sobre a mobilidade e as necessidades de estacionamento que, ao que dizem, justificam as soluções propostas. Muito se ganharia se os resultados desses estudos técnicos, mesmo que preliminares, tivessem sido divulgados antes ou durante o processo de discussão pública do projecto. Mas ainda é tempo para o fazer.

O mesmo se dirá em relação às prospecções geológicas que terão sido feitas. Não faltam testemunhos que indiciam que o terreno do Toural, especialmente na sua frente voltada ao sul, terá uma compleição rochosa. Ao que se vai dizendo, os resultados das tais prospecções irão em sentido contrário. Para afastar dúvidas, seria recomendável que se revelassem os resultados dessas sondagens e se mostrasse a fiabilidade da técnica utilizada (que não percebi bem qual fosse). Entretanto, persistirá uma dúvida não desprezível: até que profundidade é que há garantias de que o terreno não oferece problemas?

Às dúvidas, que o próprio Presidente da Câmara avançou, quanto à probabilidade de achados arqueológicos virem a interferir seriamente no andamento das obras, se avançarem, houve quem respondesse com certezas muito optimistas. Cá por mim, não as tenho assim tão certas. E direi mais: do meu ponto de vista, bem que gostaria que se fizessem prospecções arqueológicas no Toural (confesso que alimento alguma curiosidade em saber o que se esconde ali debaixo). Dos argumentos que escutei sobre a improbabilidade de se encontrar algum achado relevante no Toural, um pareceu-me particularmente curioso, aquele que falava da profundidade a que se poderiam encontrar vestígios arqueológicos. Dizia-se que, a haver achados, eles não apareceriam a mais do que uns quantos metros de profundidade. Não percebi, confesso, onde se queria chegar. A quem tem tantas certezas nesta matéria, certamente com base numa qualquer ciência divinatória que não a Arqueologia nem a História, lembro que as prospecções arqueológicas no Centro Histórico de Guimarães costumam dar resultados aparentemente surpreendentes: quando se esperava muito, tivemos nada; quando se esperava nada, tivemos muito. Pelos vistos, não falta quem se recorde da demanda pela antiga igreja da praça de S. Tiago, mas que esquece, muito convenientemente, os muito mais recentes achados da Casa dos Lobo Machados e as suas consequências na vida da ACIG.

Já disse que não me admirava que fossem dos comerciantes do Centro Histórico as primeiras queixas em relação aos efeitos das obras do Toural. Estava certo de que, começados os trabalhos, não tardariam em ir bater à porta da Câmara com a queixa do costume: os prejuízos para o negócio. O que não esperava, era ver a lamúria já no adro, ainda sem ter saído a procissão, e sem sequer se saber se sairá ou não. Não faz nenhum sentido os comerciantes pedirem subsídios à Câmara para cobrirem eventuais prejuízos que lhes advenham da quebra do negócio em tempo de obras. Se o projecto avançar com pretexto nos benefícios que trará para o comércio, será expectável que os beneficiados, em vez de estenderem a mão a pedirem apoios públicos, a estendam para mostrarem que estarão dispostos a assumir a sua quota-parte na responsabilidade de custear o empreendimento de que serão os principais favorecidos.

Mais um debate, e continuo com dúvidas quanto à necessidade de estacionamento enterrado no Toural (para já não falar no inaudito túnel que para lá é proposto). Ainda há dias, no debate que a Muralha promoveu sobre a proposta de nova localização para a feira semanal, um técnico da Câmara Municipal demonstrou que aquele equipamento ficará muito bem servido pelo estacionamento já disponível dentro de um perímetro de quinhentos metros. Então, como é? Quinhentos metros é uma distância aceitável para quem vai à Feira e de lá vem com os seus carregos, e duzentos ou trezentos já não o serão para quem vai às compras no Centro Histórico?

Temos ouvido dizer que o parque subterrâneo do Toural é necessário para substituir os lugares de aparcamento que serão eliminados nos largos João Franco e Condessa do Juncal e na Alameda (para não falar na possível eliminação do parque privado do Centro Comercial Santo António, que não se percebe bem como continuará a funcionar, após o encerramento do trânsito naquela artéria). Esse tem sido o melhor argumento que tenho ouvido para justificar a necessidade do parque no Toural. Mas levanta-me uma inquietação: metendo no novo parque os automóveis que agora estacionam nos parques que irão desaparecer, não me parece que vamos ter mais lugares de estacionamento do que os que temos hoje. Ou, dito de outra maneira: se os carros que vão estacionar no Toural são os mesmo que já hoje estacionam ali por perto, o resultado líquido deste empreendimento será, em lugar da proclamada reanimação no comércio local, apenas, e tão só, mais do mesmo que já hoje temos.

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1 Comentários

Anónimo disse…
" O Toural
sempre igual
é o coração da cidade.
Bombeia o tráfego
de gentes e veículos.
O TOURAL SEMPRE IGUAL.
Ao centro o monument
Afoga-se
na secura da taça.
à roda da praça
as esquinas estão
polidas a cu
como as dos Rossios
de todo o mundo.
O importante
- significante-
é o povo banal
no seu trajecto
riscando o Toural
tal qual. "
In " a dor é fio da teia" - poemas - J.S.Simões-1981