Estes títulos, todavia, que de si já muito significam a favor dos seus merecimentos literários, ficam de todo deslumbrados por outros, que ele soube juntar à coroa imarcescível da sua imortalidade, como incansável operário do nosso engrandecimento nacional, além-mar.
A fome com todos os seus horrores devastava a formosíssima Suiça depois de um Inverno prolongado e sem antecedente na história. Um número avultado de famílias pobres, em conjuntura tão dolorosa, lembra-se de procurar recursos na emigração forçada para o clima fertilíssimo da América e acolher-se para tal fim à sombra hospitaleira de Portugal. O presidente e os membros da confederação de Friburgo escrevem sobre o importante assunto a el-rei D. João VI, que em carta régia de 2 de Maio de 1818 lhes assegura a mais despretensiosa amizade e o mais valioso auxílio nas suas possessões de além-mar; e logo a 6 do mesmo mês é o nosso monsenhor Miranda, já então desembargador do Paço, encarregado da inspecção do estabelecimento dos novos colonos – em número de 1400 – no distrito de S. Pedro do Cantagalo.
Nesta missão honrosa e dificílima não deve a história esquecer o nome benemérito de José Feliciano de Castilho – pai do célebre poeta, visconde de Castilho; lente de prima na Universidade de Coimbra; primeiro médico e inspector dos hospitais militares do Alentejo, Minho, Beira e Trás-os-Montes e primeiro médico na câmara de D. João VI – o qual na qualidade de subinspector da mesma colónia valiosíssimos serviços prestou ao nosso inolvidável compatrício.
Para a fundação da nova colónia assentaram-se os arraiais em Morro-queimado, onde o nosso Machado de Miranda e o seu ilustre amigo tiveram de prestar cuidados aos variados assuntos de economia política, doméstica e rural, higiene, moral e sociabilidade, tornando-se portanto ao mesmo tampo arquitectos, agricultores, legisladores, médicos, juízes e pais.
Para notícias mais minuciosas e curiosas pode consultar-se as “Memórias de Castilho”, por Júlio de Castilho, tom. I. pág. 193.
O nosso ilustre patrício, descido ao túmulo depois de tão valiosos serviços, tem ainda hoje por epitáfio o glorioso e honrosíssimo a actual Vila Nova Friburgo – assim denominada por alvará do 3 de Janeiro de 1820 – cujo continuado progresso se deve em parte ao impulso sábio e prudente dos seus fundadores.
[João Gomes de Oliveira Guimarães, in O Espectador, n.º 27, Guimarães, 1 de Maio de 1884]
Mais informações sobre Pedro Machado de Miranda Malheiro: Supremo Tribunal Federal (Brasil)
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