Outros Carnavais: o de 1884

O antigo Teatro de D. Afonso Henriques

Em 1884, os jornais de Guimarães davam notícia da decadência dos festejos de rua com que tradicionalmente se celebrava o Entrudo. Por esse tempo, o Carnaval tinha passado para o interior dos teatros e dos salões, com bailes de máscaras que se prolongaram pelos três domingos que antecederam o Carnaval e que terminaram na noite da terça-feira gorda. Não obstante a menor vivacidade dos festejos populares, não deixou de se realizar, pelo menos em Creixomil, um enterro parodial do Entrudo, tradição de que já se falou aqui. Aí vão algumas notícias colhidas no jornal Religião e Pátria:


Bailes de máscaras – Os de domingo foram pouco concorridos, o que é de costume nos primeiros. Os do Teatro Gil Vicente estiveram frios de todo. No Teatro D. Afonso Henriques estiveram um pouco animados, para o que concorreu a excelente orquestra, que nos intervalos tocava mimosíssimas sinfonias.

No salão da Associação Artística é onde eles estiveram mais concorridos. A casa acha-se bem adornada e iluminada, e o salão é magnífico para este fim.

Todo o trabalho destes bailes, que são em benefício da Associação, foi encarregado a uma comissão, que é composta dos snr. António José Ribeiro Salgado, Vicente José Pereira Rodrigues, João Baptista Pimenta, António José Baptista Guimarães, e Francisco Xavier Ferreira, a qual tem sido incansável em fazer com que eles agradem ao público, e cremos que o conseguirão.

[Religião e Pátria n.º 14, 35.ª série, 13.02.1884 (quarta)]

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Bailes de máscaras - Efectuam-se amanhã os segundos bailes masqueés. No salão da Benemérita Associação Artística tem havido repetidos ensaios, que têm sido muito concorridos.

[Religião e Pátria n.º 15, 35.ª série, 16.02.1884 (sábado)]

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Bailes de máscaras - Os de domingo estiveram bastante animados, tanto no Teatro de D. Afonso Henriques como no salão da Associação Artística. Em ambas as casas se viam grupos muito bem vestidos.

No Salão da Associação Artística estiveram um pouco mais concorridos de máscaras, o que foi devido naturalmente a distribuirem-se 5 prémios aos que se apresentassem mais bem vestidos e que melhor dançassem.

[Religião e Pátria n.º 16, 35.ª série, 20.02.1884 (quarta)]

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Bailes de máscaras - Já que o Entrudo tem vergonha de aparecer na rua, apareça ao menos num teatro e num salão. Também não é tão prejudicial.

Os bailes de amanhã queremos que serão ainda mais animados que os do domingo último.

No salão da Associação Artística distribuir-se-ão três prémios, e todos três animam uma pessoa a encaretar-se para os abichar.

Os prémios serão entregues aos melhores máscaras e que melhor dançarem e constam de um bom relógio de prata, um bom anel de ouro e um rico ramo.

è preciso que se saiba que não é a Associação Artística que os oferece; ela não pode com tais despesas.

Quem os oferece são alguns briosos mancebos amantes da benemérita Associação, que desejam que os bailes sejam concorridos para se tornarem mais produtivos em benefício da mesma.

Honra lhes seja.

A digna comissão nomeada pela Associação para tratar dos trabalhos dos bailes, deve estar satisfeita, porque os seus esforços em tornar os bailes agradáveis não foram baldados.

[Religião e Pátria n.º 17, 35.ª série, 23.02.1884 (sábado)]

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Carnaval – Vão cada vez a menos os antigos folguedos do Carnaval. Na rua, absolutamente nada que mereça atenção.

Em compensação, tivemos bailes muito animados no teatro D. Afonso Henriques e salão da Associação Artística. Especialmente no salão foram eles o mais animados que se poderia desejar. Muita máscara, muitas danças, grande afluência de espectadores, enfim, uma animação.

Como já dissemos no n.º passado, para haver esta influência concorreu um grupo de mancebos, devotados á prosperidade da Associação, que se vestiram a capricho e formaram danças.

Na terça feira, às 9 horas da noite, entraram eles no salão em número superior a 40, e, todos reunido no centro, levantaram vivas á Associação Artística Vimaranense, os quais foram entusiasticamente correspondidos pelos espectadores da plateia e camarotes; em seguida, a comissão encarregada dos trabalhos dos bailes levantou também vivas ao grupo de mancebos, que foram igualmente correspondidos calorosamente, tocando a orquestra o hino da Associação durante este entusiasmo.

No fim disto, o exmo. snr. António Augusto da Silva Caldas, à frente do ilustrado grupo de mancebos, ofereceu à Associação, para continuação das obras de sua casa, a quantia de 50:000 réis.

A Associação trata, como melhor lhe cumpre, de mostrar o seu maior reconhecimento a todos pelos seus serviços.

Ataque à Religião - Em um dos dias da semana passada, alguns sujeitos da freguesia de S. Miguel de Creixomil tiveram a fraca lembrança de parodiar um enterro religioso, e, com água e um esquife, andaram por aquela freguesia a cantarolar simulando os cânticos religiosos fúnebres.

Este procedimento, malvadez ou embriaguês, é um ataque è religião do Estado, e foi de encontro às expressas determinações da autoridade administrativa, e esta, recebendo uma queixa contra tal facto, vai proceder à punição dos seus autores.

[Religião e Pátria n.º 18, 35.ª série, 01.03.1884 (quarta)]


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