Vimaranenses: Frei António de Sena

Frei António da Conceição — que depois se chamará frei António de Sena - foi considerado e honrosissimamente apelidado pelos seus conterrâneos e admiradores o astro brilhante do paraíso dominicano.

Astro de fulgores cintilantes teve o seu levante em Guimarães, em data que não pudemos averiguar, e o seu ocaso em Nantes no primeiro dia de Fevereiro de 1584.

Dado desde a infância às letras, professou mais tarde na ordem dos pregadores no convento da Senhora da Misericórdia em Aveiro: estudou filosofia em Lisboa, teologia em Coimbra e foi desde logo nomeado Iente de artes no seu convento lisbonense.

Era, todavia, Portugal teatro muito limitado para o nosso gigantesco herói, por isso, rasgando por mais dilatados horizontes, deixa a pátria, vai aos Países Baixos estudando 11 anos na universidade de Lovaina onde recebeu o grau de doutor a 25 de Junho de 1571; chega a Barcelona por ocasião de um capítulo geral da sua Ordem, em 1574, e é ali eleito regente geral dos estudos naquele notabilíssimo convento; visita Roma em 1575, ano do jubileu e percorre a Itália toda em viagem erudita não deixando do visitar e estudar as mais afamadas bibliotecas e os mais opulentos arquivos dos conventos dominicanos: consulta ainda as grandes livrarias de França e da Inglaterra, vendo quantos manuscritos pode nas viagens que fez por afastados países, em companhia do prior do Crato, D. António, de que foi caloroso partidário.

Da vastidão dos seus conhecimentos como prodigioso polígrafo e teólogo eminente dão ainda hoje testemunho glorioso esses tantos monumentos escritos que generosamente o nosso patrício legara às letras.

Não os citamos por ser o catálogo demasiadamente longo.

E para que não nos espantem os recursos assombrosos da sua inteligência privilegiada, diremos que não lhe eram inferiores os privilégios de memória pois que o nosso inolvidável patrício retinha e reproduzia com minuciosa exactidão todas as obras do Santo Agostinho!!

Para cúmulo da sua glória; como patriota enérgico basta dizermos, que as suas obras foram proibidas em Portugal na usurpação de Filipe II.

Ao nosso lidador indefesso o descanso eterno.

[João Gomes de Oliveira Guimarães, in O Espectador, n.º 14, Guimarães, 31 de Janeiro de 1884]

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