Comemora-se no dia 23 do corrente o 190.º aniversário do passamento de um filho ilustre e benemérito das letras, apesar da severidade dos críticos, aliás insuspeitos.
Rafael de Jesus nascido aqui em 1640, professou em 1679 na ordem se S. Bento, assumindo nesta respeitável corporação elevadas dignidades como a de procurador geral e D. Abade em vários mosteiros. Foi procurador muito apreciado no seu tempo e deixou neste ramo três volumes impressos, que hoje não são vulgares, nem muito procurados.
Mas o que mais o distinguira na república das letras foi sem dúvida a sua composição do Castriosto Lusitano, história fiel, embora fastidiosa, de um dos episódios mais brilhantes da história luso-brasileira, que por isso obteve lisonjeiro acolhimento. Impresso o Castriosto em 1679, deu-lhe fama de historiador, e por isso foi nomeado cronista-mor do reino, escrevendo como tal a sétima parte da "Monarquia Lusitana".
Julgado, como dissemos, muito severamente pela crítica, é todavia dignamente justificado pelo indefesso bibliógrafo I. Francisco da Silva, que apreciando o nosso escritor diz: que nos pecados de Fr. Rafael de Jesus incorrem hoje entre nós com maior gravidade, talvez, certos escritores aos quais nem por isso faltam apaniguados e sequazes que timbram de imitá-los.
[João Gomes de Oliveira Guimarães, in O Espectador, n.º 8, Guimarães, 20 de Dezembro de 1883]
0 Comentários