Da "cerca velha" de Guimarães


Um dos enigmas da história urbana de Guimarães prende-se com a localização do limite Sul da antiga cerca de Guimarães, que rodeava o antigo burgo do Castelo, que tem sido colocado, conjecturalmente, no sopé do Monte Latito. O historiador Alfredo Guimarães terá concluído que este muro atravessava desde a Porta da Freiria, do lado nascente, até à Porta da Senhora da Graça, ou de Santa Luzia, a Poente. Porém, parece cada vez mais certo que a cerca velha teria como limite, a sul, uma linha de muralha situada entre a Porta da Freiria e a Porta de Santo António ou da Garrida, que se situava sensivelmente em frente ao Paço dos Duques, para Poente. Nas Memórias de Francisco Xavier da Serra Craesbeeck, podemos ler que era na Porta da Garrida “onde o muro novo se vem juntar com o velho”. Na mesma obra, quando dá notícia do cerco que Afonso VII montou a Afonso Henriques, que esteve na origem da tradição que tornou famoso Egas Moniz, Craesbeeck refere que uma parede do Paço dos Duques foi erguida por cima do “lanço do muro, que cercava a cerca velha”, o que parece ir de encontro à ideia de que o velho burgo do Castelo teria uma área bem menor do que aquela que geralmente se lhe tem atribuído e que o seu limite passaria no local onde hoje está a parede do palácio voltada a Sul:

É de advertir que a cerca, em que o dito Infante foi cercado por el-Rei de Castela, vinha serrar onde hoje estão os Passos, e quando el-Rei D. Dinis mandou fazer a cerca nova, que vai continuando com a cerca velha, devia ficar o lanço do muro, que cercava a cerca velha; e, sendo os Duques de Bragança Donatários da Coroa, tiraram o dito muro, e na parede donde ele estava, fizeram os Paços, que estão na terra de el-Rei, que os ditos Duques, por virtude da doação, que tinham da Coroa, fundaram na terra, que traziam dela; e como foi a dita doação conforme a Lei Mental, falecendo depois o Senhor Duarte sem filhos, ao qual as ditas terras vieram por sucessão, tornaram à Coroa onde estão.
(in Francisco Xavier da Serra Craesbeeck, Memórias Ressuscitadas da Província de Entre-Douro-e-Minho no ano de 1726)

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