A oliveira faz parte da iconografia vimaranense, estando presente nas suas tradições e no seu imaginário. Está presente no brasão da cidade e dá o nome à sua praça mais emblemática, à Colegiada e à própria Santa Maria.
Conta-se que a oliveira de Guimarães teria vindo, no início do século XIV, do antigo mosteiro de S. Torcato, onde produzia azeite para a lâmpada do santo. Plantada na Praça Maior, junto à Colegiada, acabaria por secar. Aí se conservou várias décadas, sem sinais de vida. A tradição atribui-lhe inúmeros milagres, incluindo o do seu próprio renascimento.
Em 1342, o negociante Pero Esteves mandou colocar na praça uma cruz trazida da Normandia (a do Padrão de Nossa Senhora da Vitória), que foi implantada ao lado da oliveira ressequida. Não passariam três dias sem que a oliveira começasse a enverdecer e a deitar ramos. Era o primeiro milagre, dos muitos que se sucederiam nos meses seguintes: três mudos começaram a falar, um surdo voltou a ouvir, vinte e três cegos puderam ver, quatro paralíticos mexeram mãos e braços, onze endemoninhados viram-se livres das possessões que os atormentavam.
Aqueles eram tempos difíceis, frequentemente assolados pela fome, pela peste e pela guerra. Correu mundo a fama da oliveira através da qual Santa Maria operava milagres. A Senhora da Oliveira passou a ser objecto de devoção de gente humilde e de poderosos. Os próprios reis se fizeram seus devotos.
Não será hoje muito relevante o facto de, à luz da História e das tradições, subsistirem fundadas dúvidas acerca das memórias que envolvem a oliveira de Guimarães. Não é seguro que a Senhora tivesse tomado dela o nome, uma vez que também se conta que a imagem de madeira da Senhora da Oliveira teria sido, originalmente, uma representação de Ceres, deusa romana que teria um templo numa praça de Guimarães. S. Tiago cristianizou-a sob o nome de Santa Maria de Guimarães (a tal praça é a que hoje tem o nome daquele apóstolo). Quando, no século V, os suevos invadiram a Galiza, a imagem terá sido enterrada no Monte da Oliveira (ou das Oliveiras). Descoberta no tempo de Mumadona, passaria a ser conhecida pelo título de Senhora da Oliveira, que lhe veio do local onde esteve escondida.
Os documentos também não confirmam a sua velhice. Na década de 1820, secou, por obra dos vizinhos, que se queixavam dos incómodos causados por árvore tão frondosa nas imediações das suas casas. Tendo aparecido tombada no chão, foi novamente plantada. Desta vez, não houve milagre. Uma nova oliveira tomou o seu lugar em 1824.
No Outono de 1869, a Câmara Municipal decidiu que a Oliveira deveria ser removida para um ponto da praça onde não perturbasse o trânsito. O Cabido da Colegiada foi consultado sobre a ideia de a levar para o espaço entre o Passo do Postigo da Guia e a parede do claustro encostada à Capela de S. Brás. O assunto levantou acesa discussão na cidade. Na madrugada de 17 de Janeiro de 1872, a oliveira foi serrada e o polígono de pedra que a cercava foi demolido (o mestre pedreiro que dirigiu esta operação viria a falecer alguns dias depois, sendo a causa da morte atribuída pelo povo a castigo da Senhora da Oliveira).
Em finais de 1875, a Câmara levou a hasta pública o que restava da oliveira e da grade que a rodeara. O arrematante colocou-a no tanque que estava encostado à torre da Colegiada, na esperança de que reverdejasse. Mais uma vez, não houve milagre.
Durante mais de um século, faltaria a oliveira na praça que lhe tomou o nome. A requalificação da Praça da Oliveira, no âmbito do processo de recuperação do Centro Histórico, permitiu que a cidade se reencontrasse com um dos seus símbolos.
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