O Castelo de Guimarães

Ícone de Guimarães e do alvorecer da nacionalidade portuguesa, o Castelo de S. Mamede foi mandado construir pela Condessa Mumadona Dias na segunda metade do século X, para resguardo dos religiosos do mosteiro que instituiu no local onde hoje está a Colegiada da Oliveira. Por um documento de 4 de Dezembro de 968, sabe-se que Mumadona fez doação do Castelo ao mosteiro, para que os frades e as freiras se pudessem nele abrigar de eventuais incursões dos mouros.

A partir de finais do século XI, foi residência ao Conde D. Henrique, que o remodelou e ampliou. Foi aí que Afonso Henriques passou a sua infância e juventude. Fez parte do cenário conspirativo da insubordinação que levaria o Condado à independência.

Na viragem do século XIII para o XIV, foi objecto da remodelação ordenada por D. Dinis, que lhe deu o essencial da configuração que hoje apresenta.

Morada do alcaide-mor de Guimarães e prisão para os infractores da vila, a partir de 1663 serviu também de armazém da palha do rei.

Nem sempre houve o melhor cuidado na sua preservação. Já em 1653, nos capítulos que Guimarães apresentou às Cortes, se pediu ao rei que mandasse acudir ao Castelo, à custa das rendas do alcaide-mor, por estar “arruinado e se se lhe não acudir se arruinará de todo em prejuízo grande da vila”.

Ao longo dos tempos, os muros que rodeavam a vila de Guimarães e as torres que guardavam as suas portas foram sendo demolidos para utilizar a sua pedra nas calçadas e em novas edificações. No final do século XVIII, a degradação da muralha era de tal ordem que foi declarada a sua inutilidade.

Para além do nascimento da Nação, o Castelo de Guimarães testemunhou boa parte dos momentos mais dramáticos da história portuguesa. Em 1369, resistiu vitorioso ao cerco das tropas de Henrique II de Castela. Em 1383, sendo o alcaide partidário de D. Beatriz, foi cercado por D. João I. Em 1580, esteve ao lado de D. António, Prior do Crato. Durante o consulado de D. Miguel, serviu de prisão para os opositores ao miguelismo.

Em Janeiro de 1836, um dos membros da Sociedade Patriótica Vimaranense, entidade que assumira o governo de Guimarães, propôs que se demolisse o Castelo para usar a sua pedra nas calçadas, “por ser uma cadeia bárbara que serviu no tempo da usurpação”. O assunto levantou acesa discussão, mas a proposta acabou rejeitada, com quatro votos a favor e quinze contra.

Abandonada a ideia da conversão do castelo em empedrado das calçadas, passaram a prevalecer as preocupações com a preservação do velho monumento. Em 1839, a Câmara alertou a Rainha para a necessidade de cuidar da sua conservação. Em 1889, Joaquim José de Meira propôs à Câmara que se organizasse um projecto de melhoramentos em volta do Castelo. Em 1910, foi classificado como Monumento Nacional. Em 1916, o governo autorizou a Câmara a contrair um empréstimo para, entre outros projectos, arranjar o parque circundante das ruínas do Castelo e do Paço dos Duques.

Em 1936 iniciaram-se as obras de restauro do Castelo, que seriam inauguradas em 4 de Junho de 1940. O arranjo do espaço envolvente contribuiu para realçar a monumentalidade do Castelo da Fundação, ao mesmo tempo que lhe retirou boa parte da vida que lhe vinha do bulício das gentes que, durante séculos, povoaram as ruas que foram arrasadas para abrir espaço para o novo parque.

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