S. Miguel do Castelo

A igreja de S. Miguel do Castelo tem um grande peso simbólico nas tradições vima­ranenses, estando associada aos fundamentos da nacionalidade portuguesa. Reza a tradição que terá sido naquele pequeno templo que o Arcebispo D. Geraldo baptizou o primogénito dos condes Henrique e Teresa, que a si próprio se viria a investir no cargo de primeiro rei de Portugal.

Antiga paroquial da vila velha de Guimarães, é uma igreja românica que está implantada no espaço da velha cerca baixa do Castelo. O seu principal traço é a austeridade-cons­trutiva e decorativa. Tem nave longitudinal, terminando numa capela-mor rectangular. O portal principal, de tímpano liso, abre-se sob duas arquivoltas de arco quebrado. O remate da empena ostenta uma cruz trilobada. Em cada uma das fachadas laterais, rematadas por cornijas simples, foi aberta uma porta. Uma delas está enquadrada, do lado exterior, por dois arcosólios (túmulos implantados na parede). No interior, do lado esquerdo junto ã entrada, está uma pia baptismal de granito, onde, segundo a tradição, terá sido baptizado Afonso Henriques. O chão está lajeado com várias estelas funerárias, que apresentam decorações e inscrições. Foi sede da paróquia que lhe deu o nome, que sempre teve um número de fregueses muito diminuto. Já em Maio de 1412, o Prior D. Afonso Gomes de Lemos, atendendo à pouca renda que a igreja S. Miguel do Castelo gerava, decidiu anexá-la à conesia do cónego Pedro Anes, que servia a Colegiada havia muitos anos, com bons serviços pres­tados, com o encargo de a curar, enquanto vivesse.

Em Novembro de 1664, os frades capuchos instalaram-se numas casas próximas desta igreja, cedidas por D. Nuno de Noronha Amaral e Castelo Branco. O Prior de Guimarães, D. Diogo Lobo da Silveira, concedeu então licença aos padres frei Jerónimo de Vila Real, guardião, frei João da Barca, frei Manuel de Verdemilho, frei Pedro de Beja e frei Francisco do Porto, para celebrarem os ofícios divinos na igreja de S. Miguel do Castelo, enquanto não terminasse a construção do seu convento (Santo António dos Capuchos, que foi concluído em 1668).

Esta igreja foi objecto de obras em 1795, por iniciativa do seu abade, Francisco José Ribeiro da Silva. Terá sido nessa altura que o arco cruzeiro românico primitivo foi substituído por um novo, ao gosto da época.

No final de Dezembro de 1868, uma comissão encarregada de proceder à reforma das paróquias na comarca de Guimarães propôs a extinção da freguesia de S. Pedro de Azurém, alargando o território de S. Miguel do Castelo, por razões históricas e para maior comodidade para a sua população. Verificando-se que a igreja do Castelo não estava em condições de assegurar as suas funções de sede paroquial, por precisar de ser reparada e ampliada, o administrador do Concelho solicitou à Misericórdia a cedência da igreja do hospital para o serviço paroquial, enquanto durassem as obras de remodelação de S. Miguel. Alegando que a sua igreja necessitava de estar livre para o serviço do hospital, a Mesa da Santa Casa informou que não podia aceder àquela so­licitação. Os trabalhos de ampliação da abadia de S. Miguel nunca se realizaram. Porém, havia urgência em acudir-lhe com obras que travassem a degradação paulatina que a atingia. O sinal de alerta terá sido dado pelo desmoronamento do campanário e do cunhal da igreja, no final de Novembro de 1872.
Já em 1870, o Arcebispo de Braga havia retirado à igreja de S. Miguel do Castelo o título de paroquial, por força do estado de ruína em que se encontrava, que impedia a realiza­ção das celebrações religiosas. A paróquia foi então anexada à de Santa Maria da Oliveira. Em 17 de Agosto de 1874, uma comissão presidida por Francisco Martins Sarmento, integrando João Pinto de Queirós, o cónego José de Aquino Veloso de Sequeira e o pa­dre António José Ferreira Caldas, deu início aos trabalhos de restauro da igreja, com a preocupação de devolverão templo a sua feição românica original. Entre outras inter­venções, foi demolido o arco cruzeiro setecentista. Martins Sarmento custeou o novo arco, que foi erigido nas dimensões e formas arquitectónicas do primitivo. Em 1910, a velha abadia do Castelo foi classificada como Monumento Nacional. Em 1940, foi restaurada pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. A tradição que associa esta igreja à figura do rei fundador perde-se no tempo. O certo é que, do ponto de vista histórico, é pouco provável que o arcebispo D. Geraldo tenha baptizado Afonso Henriques ali. Em primeiro lugar, porque, à data do nascimento do futuro rei, já D. Geraldo teria falecido. Em segundo lugar, porque tudo aponta para que a igreja
de S. Miguel do Castelo, que foi sagrada em 1239, seja obra do reinado de D. Sancho I.

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