A Pedra Formosa é o ex-libris da cultura castreja. Trata-se de um monumento singular, baptizado pelo povo há vários séculos por causa da beleza da sua ornamentação, sendo um dos achados arqueológicos mais estudados. Ao longo de muitas décadas, o mistério que a envolvia alimentou aceso debate entre os especialistas acerca da sua natureza e função.
A Pedra Formosa é um monólito de granito lavrado há uns três mil anos, com quase três metros de largura e mais de dois de altura. Apesar das suas dimensões e peso, calculado em mais de cinco toneladas, já foi objecto de várias trasladações. Segundo a tradição, a primeira ocorreu quando foi levada à cabeça, desde o alto da Citânia até ao adro da Igreja de Santo Estêvão de Briteiros, por uma moura fiandeira.
Os livros contam uma história diferente.
A mais antiga referência à Pedra Formosa encontra-se numa obra de Francisco Xavier da Serra Craesbeck, que, escrevendo em 1723, conta que estaria originalmente no alto da Citânia, da parte Nascente, colocada em posição vertical. Como “pelo discurso do tempo caiu a dita pedra formosa no chão”, o abade de Santo Estêvão de Briteiros, Inácio de Carvalho, fez com que fosse levada, por sete juntas de bois, para perto do Rio Ave. Em Março de 1718, onze juntas de bois transportaram-na para o adro da igreja de Santo Estêvão de Briteiros, onde ficou “com o lavor para cima, posta sobre umas pedras altas”. Foi nesse local que Martins Sarmento a encontrou, providenciando, em 1876, o seu retorno à Citânia, onde foi colocada no interior de uma casa por ele reconstruída. Para subir o monte foram necessárias 24 juntas de bois. Em 1897, deu entrada no Museu Arqueológico da Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães, sendo exposta no centro do Claustro de S. Domingos, em posição horizontal (uma câmara escavada no solo permitia descer para observar a parte posterior do monumento). Mais tarde, foi posta ao alto na galeria do Claustro. Em 24 de Setembro de 2003 regressou a Briteiros.
Quando, em 1930, Mário Cardozo descobriu na Citânia de Briteiros uma segunda Pedra Formosa, ficou a conhecer-se o tipo de edificação a que pertencia, mas aumentou a controvérsia em relação à respectiva função: forno crematório (ou de cozer pão, ou barro, ou fundir metais), matadouro de animais, santuário?
No último quartel do século XX, o enigma foi resolvido pelos arqueólogos. A Pedra Formosa fazia parte da estrutura de um balneário composto por três espaços distintos: átrio com um tanque onde caía a água corrente, destinado a banhos frios, antecâmara de transição e câmara para banhos de vapor, tipo sauna. O vapor era produzido lançando água sobre seixos previamente sobreaquecidos num forno adjacente a esta última câmara. A Pedra Formosa erguia-se entre a antecâmara e o espaço da sauna, permitindo o acesso através da pequena abertura semicircular situada na sua base, concebida de modo a evitar a fuga de calor, mas suficiente para permitir a passagem de uma pessoa.
As pedras formosas são, pela sua importância material e simbólica, os tesouros mais valiosos que os arqueólogos podem achar nas ruínas dos velhos castros, constituindo uma das produções mais marcantes da arte de lavrar a pedra associada à cultura castreja. Hoje, já se conhecem umas quantas. Mas aquela de que aqui se falou continua a ser ‘a’ Pedra Formosa: a maior, a mais bela, a que precedeu e deu o nome a todas as outras.
Pode ser admirada no Museu da Cultura Castreja, em S. Salvador de Briteiros.
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