O Padrão de quê? (2)

Padrão da Oliveira em 1926. Fotografia de Eduardo Portugal. Fonte: Arquivo Municipal de Lisboa.

[Continua daqui.]
Da leitura das diferentes descrições do Padrão dito do Salado que se foram traçando ao longo dos séculos resulta alguma confusão acerca do que possa ser o monumento: se apenas a estrutura arquitectónica formada por uma abóbada assente em quatro arcos ogivais, a que tenho visto chamar de alpendre, templete ou coberto, se somente o cruzeiro que debaixo dele se abriga, se todo o conjunto.
O documento que nos conta a história da instalação do padrão é uma cópia de 1351, lavrada pelo tabelião Antoninho Lourenço, de um manuscrito conhecido como o Livro dos Milagres de Nossa Senhora da Oliveira, que foram registados pelo tabelião Afonso Peres, entre 1342 e 1343.
A oliveira estava seca quando, no dia 8 de Setembro de 1342, quando se assinalava a Natividade de Nossa Senhora, se assentou na Praça da Maior da vila de Guimarães a cruz que um mercador vimaranense a residir em Lisboa, Pedro Esteves, encarregara o seu irmão Gonçalo de comprar na Normandia e implantar na principal praça de Guimarães, em honra de Deus e de Santa Maria. Sobre a data da colocação da cruz não há que ter dúvidas, uma vez que foi gravada em caracteres góticos numa pequena lâmina de bronze afixada no monumento. A estes factos, solidamente documentados, junta-se a lenda que conta que, passados três dias da erecção da cruz, a oliveira voltou à vida, reverdecendo miraculosamente, e que, exactamente um mês depois, a Senhora da Oliveira começou a operar os milagres que são contados pelo tabelião Antoninho Lourenço.
Quando ao templete que abriga o cruzeiro, não temos notícia de quando tenha sido levantado. Não é certo que tenha sido erguido ao mesmo tempo que a cruz, mas nada nos garante que o não tivesse sido. Certo é que, tal como a cruz, foi levantado durante o reinado de D. Afonso IV, como o confirmam os escudos com as armas daquele rei afixados nos panos de parede que se sobrepõem cada um dos arcos ogivais que suportam a abóbada.
Apesar de se ter consolidado a designação de padrão para todo o conjunto, em rigor o Padrão da Praça da Oliveira é o cruzeiro oferecido por Pedro Esteves, como, aliás, o diz com toda a clareza o cónego Gaspar Estaço, quando escreve:
Este Padrão é uma Cruz de pedra com a Imagem de Cristo crucificado, assentada sobre uma coluna e coberta de abóbada, que estriba em quatro esteios.
Por outro lado, não faltam por aí, mesmo no concelho de Guimarães, cruzeiros a que chamam padrão, como aquele de Vila Nova das Infantas, dedicado a Nossa Senhora do Rosário e descrito pelo Abade de Tagilde na sua obra Guimarães e Santa Maria (pág. 61), de onde transcreveu a seguinte inscrição:
Jesus, Maria. Este Padrão fez António Ribeiro filho de Simão de Araújo por sua· devoção à honra da Virgem do Rosário. 1620.
Um padrão é isso mesmo: um monumento de pedra aprumado na vertical, que assinala um feito ou uma pessoa. Não faltam por este país fora cruzeiros que se chamam padrão, sem terem cobertura que os resguarde. E, se o padrão é a cruz, é fácil de perceber o que nele se invoca. Nem a Batalha do Salado, nem a Batalha de Aljubarrota (como denota um outro nome, bem mais antigo, que tem sido dado a este monumento tão singular: Padrão de Nossa Senhora da Vitória, a que voltaremos). Foi originalmente dedicado a Deus e a Santa Maria e está na origem do milagre que fez com que a Santa Maria de Guimarães passasse a ser designada por Nossa Senhora da Oliveira e Guimarães adoptasse a oliveira no seu brasão.
Padrão de Nossa Senhora da Oliveira, portanto.
Para abreviar, Padrão da Oliveira.
[Continua aqui.]

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