Praça da Oliveira. Fotografia de Artur Pastor. Fonte: Arquivo Municipal de Lisboa (com um agradecimento a Nuno Saavedra, que me ensinou o caminho). [Tocar na imagem para ver com mais detalhe.] |
[Continua daqui]
Quando
D. João I veio a Guimarães em romagem de agradecimento à Senhora
da Oliveira, depois da Batalha de Aljubarrota, já o Padrão estava
implantado a par da Oliveira, na Praça Maior da vila. Por essa
ocasião, o primeiro rei da dinastia de Avis beneficiou generosamente
a Colegiada de Guimarães. Desde então, todos os anos, na véspera
da Senhora de Agosto, Guimarães passou a comemorar a vitória dos
campos de Aljubarrota, numa festa que incluía a exposição, no
Padrão, do pelote e da lança que o Mestre de Avis nela usou e que
ofereceu à Senhora da Oliveira. Também era ao Padrão que os padres
da Colegiada se dirigiam todas as sextas-feiras e sábados de cada
ano, em homenagem aos reis fundadores e benfeitores da Colegiada. Sem que se saiba exactamente quando, foi colocado no interior do templete um
altar de estuque, envidraçado pelo lado da frente, com a imagem de
Nossa Senhora da Vitória. Situava-se no arco do fundo, do lado
voltado para a igreja, na linha dos capitéis, com a sua base a bater
por altura dos capitéis. Segundo João Lopes de Faria que, em 1913, testemunhou a sua desmontagem seria de madeira.
É ponto assente que, desde
finais do século XIV, o Padrão, erguido quando reinava D. Afonso
IV, passou a estar associado a D. João I e à celebração da Batalha de
Aljubarrota. Ao que se percebe, ao princípio, não lhe era dado nome
particular. Gaspar Estaço, por exemplo, refere-se ao padrão que está
defronte da porta de Nossa Senhora da Oliveira. Em 1645, numa
petição do Cabido da Colegiada, em defesa dos privilégios que lhe
foram concedidos por sucessivos reis portugueses, o monumento é
referido, mais do que uma vez, como o “padrão da dita Oliveira”.
No final do século XVII, o Padre Torcato Peixoto de Azevedo
designa-o como o padrão em
que está recolhida Nossa Senhora da Vitória, o
padrão da Senhora
da Vitória, ou,
mais simplesmente, Padrão da Senhora ou
Padrão
da Vitória. Daí
para a frente, sedimentou-se
a designação de Padrão de Nossa Senhora da Vitória. Assim o
chamaram, entre tantos outros, o Padre Ferreira Caldas, o Abade de Tagilde, Albano Belino,
João de Meira, João Lopes de Faria ou Jerónimo de Almeida.
No século XIX, na imprensa vimaranense, mesmo quando não se designava o padrão por
qualquer título, nunca o vemos associado à Batalha
do Salado, mas sempre a Aljubarrota, instalando-se
a ideia de que teria sido erigido para perpetuar a memória e
recordação de tamanha vitória, como se lê no jornal Tesoura
de Guimarães de 17
de Agosto de 1885:
Em
meados do século XX, o título da Senhora do Padrão passa a ser
usado no plural: Padrão de Nossa Senhora das Vitórias. Por
essa altura, já ia fazendo caminho a ideia de que o Padrão fora
mandado erguer para celebrar a Batalha do Salado. Nos jornais que
sempre o tinham identificado com a Batalha de Aljubarrota, como O
Comércio de Guimarães, tardou a ser assumida a designação
Padrão do Salado, hoje generalizada. Nossa Senhora das Vitórias seria uma espécie de
apelido de transição, servindo para referir tanto a Batalha do
Salado, que, segundo novas opiniões, teria motivado a erecção do Padrão, como a Batalha de
Aljubarrota, que lá se celebrava há mais de cinco séculos. Ainda
era assim em 1965, como se percebe pelo anúncio da festa publicado
no dia 13 de Agosto:
Como
notam alguns autores, a Nossa Senhora da Vitória de Aljubarrota é a
Senhora da Oliveira a quem o Mestre de Avis recorreu antes da
Batalha. Portanto, não sendo incorrecto chamar-lhe Padrão de Nossa
da Vitória, antes se deveria chamar, como disse Gaspar Estaço, e
com muita razão, da Oliveira, pois esta Senhora é a que deu a
vitória e a que El-rei quis honrar, pela mercê que lhe fez.
Padrão
da Oliveira, portanto.
[Continua aqui.]
0 Comentários