O Rio da Vila

Trecho do Rio de Couros (fotografia tirada em 1980, durante as filmagens do documentário “Rio de Couros”).

É um rio com vários nomes, porque, à medida que vai percorrendo o seu curso, vai adoptando os nomes dos lugares por onde passa. Também lhe chamaram rio merdeiro, não por esse ser o seu nome, mas a referência à função de escoadouro dos dejectos (humanos, animais ou "industriais") que outrora desempenhava. É o rio De Couros, que, nascendo na encosta da Serra de Santa Catarina, bordejava a antiga vila de Guimarães pelo lado do Sul. Aqui fica a sua descrição, delineada pelo padre Torcato Peixoto de Azevedo em finais do século XVII.

Do rio da Vila.
Dos rios que correm junto a Guimarães pela parte do norte dei notícia, agora a darei dos que correm pela parte do sul, dando princípio no rio da Vila, tem este quase tantos nomes quantos os lugares por onde passa: tem o seu nascimento no oriente, na fonte dos Passais da igreja de S. Romão de Mesão Frio, distante desta vila dois tiros de mosquete. Tinham estas águas algum dia muito diferente corrente, porque iam encanadas ao palácio dos duques de Bragança, e servindo ali a suas oficinas, e regando seu dilatado jardim, continuavam seu curso. Mas, assim que acabou ali a assistência dos ditos senhores, elas tomaram outra guarida, e caminhando pelo fresco vale de Cidras, vão fertilizando seus prados, e depois juntando-se com outras no fundo da rua do Fato, ali toma o nome de rio, e avizinhando-se para a vila se junta junto da capela de S. Lázaro com as águas do rio Herdeiro, e tem a ponte de padieiras de pedra em o Campo da Feira, e vai pelas alpendras da rua da Ramada, e tem a ponte também de pedra de padieiras na rua de Couros, onde passa pelo arco de pedra da Vila Nova, deixando lavados os alicerces das casas da rua Caldeira, e dali vai a Padieiras onde tem a ponte da Madroa, e dali a poucos passos se junta com o rio Herdeiro tendo tomado os nomes destes lugares por onde tem passado. Estes dois rios juntos tomam o nome de Celinho, continuam em regar as lameiras da quinta da Porcarice, e deixando-as fertilizadas se vão juntar ao rio Selho no lugar de Reboto.
Padre Torcato Peixoto de Azevedo, Memórias Ressuscitadas da Antiga Guimarães, manuscrito de 1692, edição de 1845, Cap. 140, pág. 499.

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