O escudo de Afonso Henriques

O escudo de D. Afonso Henriques, segundo Soares dos Reis (monumento a D. Afonso Henriques, Guimarães)
As armas que  terão sido retiradas do túmulo de D. Afonso Henriques que está na igreja de Santa Cruz de Coimbra, a pedido de D. Sebastião, para lhe servirem de amuletos na desastrosa investida sobre Alcácer Quibir,  eram a espada, de que já se falou aqui, e o escudo do rei fundador. Como vimos, aquando do desembarque das tropas portuguesas em Marrocos, a espada terá ficado esquecida no barco que transportara o rei e que regressaria a Portugal após a derrota dos portugueses e o desaparecimento de D. Sebastião. Segundo a tradição, a espada de D. Afonso Henriques terá sido devolvida ao túmulo de Santa Cruz de Coimbra, mas do que terá sucedido ao escudo não há memória. 

Na Idade Média, as bandeiras replicavam, por regra, os escudos de armas utilizados pelos senhores. Assim aconteceu em Portugal no tempo da fundação: a primeira bandeira nacional ostentava o desenho do escudo que o Conde D. Henrique transmitira ao seu filho: uma cruz azul sobre fundo de branco.

Na revista Arquivo Pitoresco foi publicado um segundo artigo, onde se fala do escudo desaparecido. Aqui se reproduz.


O escudo de D. Afonso Henriques
Como na carta que publicámos no antecedente número, a respeito da espada de D. Afonso Henriques, se fala também no escudo do mesmo rei, levado por D. Sebastião à jornada de África, diremos hoje o que nos consta desta preciosa antigualha.
O Antiquário Conimbricense nada nos diz a respeito do escudo; porém temos para cabal notícia de que esta peça já não existe, um trabalho escrupuloso, desenganado e erudito, nas averiguações feitas pelo sr. dr. Rodrigo de Gusmão, grande sabedor e amador das antiguidades nacionais.
Eis o que ele nos diz num artigo publicado há tempos no Instituto de Coimbra:

Quando principiámos as nossas investigações históricas acerca de Coimbra e seus monumentos, tivemos curiosidade de ver o escudo de el-rei D. Afonso Henriques, que algumas crónicas diziam se conservava no mosteiro de Santa Cruz desta cidade.
Dirigimo-nos ao padre a cujo cargo estava a guarda de semelhantes objectos, e dele soubemos, que tão precioso monumento havia desaparecido, sem se saber como nem quando, restando, apenas, a mui simples notícia que deixara, a seu respeito, D. Nicolau de Santa Maria, na Crónica dos cónegos regrantes de Santo Agostinho, liv. XI, cap. XXXII, pág. 513.
“É de pau de figueira, forrado de coiro de boi cru, oleado e pintado, e tem de comprimento cinco palmos e meio, e de largo, no mais largo, três palmos.”
Não diz o cronista quais eram as cores; asseveram-nos porém Brandão na Monarquia (3.ª part. liv. 10, cap. 7.), e Faria no seu Epitome (3.ª part. cap. 1., n. últim.) que era branco, assentando nele uma cruz azul, daquele feitio a que chamam potenteia, por ter a haste mais comprida que os braços.
Nas cortes gerais, extraordinárias, e constituintes da nação portuguesa de 1821, em sessão de 14 de Agosto, propôs o sr. Miranda se expedisse um decreto em que se declarasse que o laço nacional seria, dali por diante, das duas cores verde-salsa e amarelo cor de oiro; procedendo, talvez, a proposta de tais cores haverem sido as duas antigas armas do reino de Portugal, que, segundo Vilas-Boas na sua Nobiliarquia Portuguesa (cap. 24, pág. 195), eram representadas por uma cidade branca em campo azul, sobre um mar de ondas verdes e doiradas.
Na sessão de 21 do dito mês, vencendo-se que entrasse em discussão esta proposta, fizeram-se algumas reflexões sobre as cores indicadas, e o sr. Trigoso propôs que fossem branca e azul, empregadas no escudo de el-rei D. Afonso Henriques, o que foi aprovado e decretado.

Arquivo Pitoresco, vol. IV, Lisboa, 1861, p. 260

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