Sobre a fundação do Vitória Sport Clube.

O Twister, em 1992. Cartoon de Miguel Salazar.

A história dos primeiros dias do Vitória Sport Clube está coberta pelo manto do esquecimento. Quando o clube nasceu, em 1922, o futebol estava longe de ser o desporto de massas, em que depois se tornou, e nem sequer era uma modalidade muito popular. Em Guimarães, era jogo improvisado pelo rapazio e praticava-se nas ruas, incomodando quem por elas passava ou lá vivia, ou, ó sacrilégio!,  no espaçoso terreiro que se estende em frente ao cemitério da Atouguia. Naquele tempo, as modalidades mais populares eram o ciclismo ou o tiro aos pombos. O futebol era divertimento para moços desocupados mais dados a pensar com os pés, do que com a cabeça, dizia-se. Assim sendo, não é surpreendente que não se encontrem registos dos dias em que nasceu daquele que, umas décadas mais tarde, se tornaria no “maior clube da província”.

Há quem sustente que o Vitória nasceu em 1922 para coincidir com a criação da Associação de Futebol de Braga, em Novembro de 1922, de que seria fundador, e que a sua primeira direcção seria a que foi presidida pelo, à época, maior entusiasta da prática do foot-ball em Guimarães, António Macedo Guimarães, proprietário da chapelaria de porta aberta junto à Torre da Alfândega, numa fracção do edifício hoje ocupado pelo Café Milenário. Foi eleita em Dezembro de 1923, com mandato para o exercício de 1924. Segundo uma outra narrativa da história inicial do Vitória, teria sido esta direcção a que inscreveu o clube na Associação distrital, para que a sua equipa pudesse participar no Campeonato do Minho.

A versão corrente da história do Vitória Sport Clube, segundo a qual o clube nasceu no dia 22 de Setembro de 1922 e a sua primeira direcção foi eleita no final de 1923, deixa algumas questões por resolver e um hiato inexplicável, que demonstra que há ainda muito trabalho de investigação para fazer, até que seja possível ter uma visão mais próxima da realidade da história da sua primeira década de existência, ainda hoje com muitos espaços em branco.

O desafio do meu amigo Miguel Salazar para escrever sobre as duas primeiras décadas do Vitória, para o livro de caricaturas que acaba de ser lançado (O clube d’O Rei – 100 anos, 100 cartoons), levou-me a voltar a mergulhar na história da fundação do clube, desta vez com o propósito de responder a uma interrogação antiga:

Se a primeira direcção do clube é a de 1924, porque se diz que foi fundado em 1922?

Havia um vazio por preencher.

Do que já sabemos, podemos afirmar o seguinte:

  • 1.    A mais antiga referência que conhecemos ao Vitória, aliás ao “Victoria Sport Club de Guimarães”, tem a data de 17 de Dezembro de 1922, dia em que se iria realizar um jogo com o “Maçarico Sport Club da Póvoa de Varzim”, não havendo conhecimento de qualquer documento que fundamente a fixação da fundação no dia 22 de Setembro daquele ano.
  • 2.   O Vitória não é fundador da Associação de Futebol de Braga, a que aderiu no Outono de 1923, para poder participar no campeonato distrital, em que jogou pela primeira vez no dia 1 de Novembro daquele ano. Por onde se conclui que a responsável pela inscrição do Vitória na AFB não poderia ter sido a direcção do chapeleiro António Macedo, que só seria eleita no dia 9 de Dezembro seguinte.
  • 3.    A primeira direcção do Vitória Sport Club, que funcionou com toda a normalidade ao longo do ano de 1923, era presidida por um jovem chamado Mariano Fernandes da Rocha Felgueiras, filho do mais destacados dos políticos republicanos vimaranenses, Mariano Felgueiras. O primeiro presidente do Vitória Sport Clube tinha 18 anos, estudou na Escola Industrial Francisco de Holanda e partiu para o Brasil em 1924.

O que vai aí cima está contado e explicado no livro O clube d’O Rei – 100 anos, 100 cartoons, de Miguel Salazar, já disponível nas lojas do Vitória Sport Clube.


Comentar

0 Comentários