A Sociedade Martins Sarmento, que nasceu como promotora da instrução popular no concelho de Guimarães e se transformou numa das instituições culturais mais prestigiadas do país, acaba de completar 140 anos. Um dos seus iniciadores e o mais destacado agitador da causa da promoção da educação vimaranense, o advogado Avelino da Silva Guimarães, faleceu há 120 anos. O Liceu Martins Sarmento, uma das causas da acção da Sociedade Martins Sarmento e da persistência de Avelino da Silva Guimarães, foi criado há 125 anos. Nos próximos tempos, iremos evocar a história da fundação da Sociedade Martins Sarmento e o seu papel no progresso do ensino em Guimarães, de que são hoje obra viva as duas maiores escolas da cidade, a Francisco de Holanda, instituída a 3 de Dezembro de 1884, e a Martins Sarmento, criada por decreto de 16 de Setembro de 1896.
Para começar pela fundação da Sociedade Martins Sarmento, recuperámos a intervenção de Eduardo de Almeida, na reunião extraordinária da sua direcção, a que presidia, realizada no 20 de Novembro de 1931, para evocar o cinquentenário da assembleia instaladora da promotora da instrução popular vimaranense.
...aquela hora foi grande, uma das mais belas da nossa terra...
A 20 de
Novembro de 1881, numa sala da Assembleia Vimaranense, pelas 11 horas da manhã,
a convite do Dr. Avelino Germano da Costa Freitas, Dr. Avelino da Silva
Guimarães, Dr. José da Cunha Sampaio, Domingos Leite de Castro e Domingos José
Ferreira Júnior, um numeroso e selectíssimo grupo de vimaranenses, em reunião
entusiasta, querendo homenagear condignamente “o alto merecimento literário e científico
do seu conterrâneo” do Dr. Martins Sarmento, resolveu criar uma “associação de
instrução que, ao mesmo tempo, e pelo tempo fora, recordasse aos altos dotes
intelectuais e de carácter de um verdadeiro sábio, glória da sua terra e da sua
Pátria e, “contendo os gérmenes do mais largo e proveitoso desenvolvimento”,
prestasse ao laborioso concelho os socorros e os incentivos de instrução, de
que tanto carecia. Exposto o fim da reunião pela palavra reflectida e ardente
do Dr. José da Cunha Sampaio, um notabilíssimo causídico,
com o nome então bem vincado no foro português pela sua exemplar probidade e
seu imenso saber, procedendo-se à leitura do relatório, elaborado pelo Dr.
Avelino da Silva Guimarães, outro advogado não menos célebre, jornalista de
larga envergadura e publicista muito distinto, que era também um grande
apaixonado pelos problemas agrícolas e sociais, e do projecto dos Estatutos da
Sociedade Martins Sarmento — promotora da instrução popular no concelho de
Guimarães.
Estava na sala
a fina flor da nossa sociedade, naquele dia de há cinquenta anos, e a
discussão, em que tomaram parte o nobre Barão de Pombeiro, um verdadeiro
fidalgo no trato, artista na arte de bem dizer, que traçou sugestivamente o
perfil admirável de Martins Sarmento, encantando com o seu moço entusiasmo
todos os assistentes, o ilustre Domingos Leite de Castro, que tão esmeradamente
cultivou certos aspectos da ciência arqueológica e a todos se impunha pelo seu
nome honrado, o saudoso vimaranense Francisco Ribeiro Martins da Costa, a quem
a cidade de Guimarães deve os mais assinalados serviços, pois só curou da
política para engrandecimento dela, o Dr. Rodrigo Teixeira de Menezes, que à
nobreza do nome respeitado e insigne aliava singulares dotes de inteligência e
de carácter. Alguns daqueles que, associando-se ao fim em vista, não tinham
podido comparecer, enviaram cartas ou fizeram-se representar. Os Estatutos
foram aprovados. Estava fundada a Sociedade Martins Sarmento. Faz hoje cinquenta
anos.
Ao rememorar
esta data, e não porque ela tanto se perca ou dilua na penumbra do tempo, sentindo-se
imensamente pequenino, olha alucinado do encanto feliz e saudoso de tamanha grandeza:
aquela hora foi grande, uma das mais belas da nossa terra, pelo pensamento que
os alumiou com tão rara elevação; pela qualidade das pessoas das mais gradas e
respeitáveis nos diversos ramos de actividade humana; pelo florido entusiasmo
criador que transforma um desejo bem simples e natural, como o de prestar
admiração a um homem eminente, uma ideia feliz e dela faz um monumento mais
perdurável que o bronze, e, em vez de frio e morto como o bronze, em chama viva
e fecunda, que vai espargir-se c alimentar com a luz da instrução o lar dos
pequeninos, a oficina dos operários, e a barra do lavrador.
Como eu
bendigo, alvoroçado, com íntima comoção, esses homens, e lhes quero beijar as
mãos agradecido! Que fiquem nas páginas da História os nomes dos guerreiros audazes
que cinturaram com os seus músculos, tornando-o invencível, o velho Castelo de
Afonso Henriques, e com a sua carne e sangue argamassaram, de lá partindo,
cantando ao Sol o nome da Independência, uma Pátria.
São bem dignos
de todas as comemorações da posteridade.
Mas, naquele
dia, e àquela hora, dentro daquela sala, corações afectivos e inteligências profeticamente
lúcidas e perspicazes, elevaram um altíssimo monumento, criando-nos dentro da
antiga cidade guerreira e medieval, e cidade nova do trabalho e do progresso.
~*~
Ao encerrar o seu discurso, Eduardo de Almeida propôs que, finda a reunião evocativa, a direcção fosse cumprimentar
António Leite de Castro e Fernando da Costa Freitas, filhos dos sócios
iniciadores Domingos Leite de Castro e Avelino Germano da Costa Freitas, os sócios
fundadores António Coelho da Mota Prego e António Augusto da Silva Carneiro, e
que a Maria Constança Bandeira e António Vicente Leal Sampaio, filhos dos
iniciadores Avelino da Silva Guimarães e José da Cunha Sampaio, fosse enviado o
seguinte ofício:
A Direcção da Sociedade Martins Sarmento, ao comemorar hoje, em reunião extraordinária, o quinquagésimo aniversário da instalação desta colectividade vimaranense, monumento erguido com amor em homenagem ao maior Sábio da nossa terra, não podia deixar de relembrar, saudosamente, todos aqueles que lançaram como bons obreiros da inteligência, os primeiros alicerces para firmar uma Sociedade que é presentemente uma das mais prestigiosas do país. Por isso, V. Exa., neste momento soleníssimo de festa, em que todos nós, humildes servidores desta casa tão grande, nos encontramos juntos, em reunião de carinhoso jubilo e de recordação saudosa, para deixarmos vincada nas páginas da acta de hoje a nossa reconhecida gratidão á memória de todos os seus fundadores, não podíamos esquecer 0 nome ilustre de V. Exa. nosso digno consócio e um dos representantes do que foi um grande amigo desta casa, grande esteio, firme e talentoso duma obra maravilhosa fulgurantemente iluminada que ajudaram com persistência, cultura e entusiasmo a erguer no seio abençoado da terra de Guimarães. Aceite V. Exa., neste dia memorável, os nossos mais vivos cumprimentos, feitos de alma ajoelhada, pela recordação sentida e saudosa daqueles que deixaram em Guimarães, o seu nome marcado pela inteligência num padrão de glória, em honra de uma glória nacional, que foi Martins Sarmento.
~*~
Sociedade Martins
Sarmento
Sócios iniciadores
Avelino Germano da Costa
Freitas.
Avelino da Silva Guimarães.
Domingos José Ferreira
Júnior.
Domingos Leite de Castro.
José da Cunha Sampaio.
Sócios instaladores
Alberto Sampaio.
António Augusto da Silva
Carneiro.
António Cândido Augusto
Martins.
António Coelho da Mota
Prego.
António José da Silva
Bastos.
António Peixoto de Matos
Chaves.
António Ribeiro da Costa
Salgado
António Vieira de Andrade.
Augusto Alfredo de Matos
Chaves.
Barão de Pombeiro.
Conde de Margaride.
Domingos de Castro Meireles.
Domingos José de Sousa
Júnior.
Domingos Martins
Fernandes.
Francisco António de Sousa
da Silveira.
Francisco José da Costa
Guimarães.
Francisco Ribeiro Martins
da Costa.
Gaspar Lobo de Sousa Machado.
Geraldo José Coelho
Guimarães.
Jerónimo Pereira Leite de
Magalhães e Couto.
João de Castro Sampaio.
João Dias de Castro.
João Ribeiro Martins da
Costa.
Joaquim José Gonçalves
Teixeira de Queirós.
Joaquim José de Meira.
José do Amaral Ferreira.
José Martins de Queirós
Minotes.
José da Silva Basto Guimarães.
José Ribeiro Martins da Costa.
José Ribeiro da Silva Castro.
Luís Augusto Vieira.
Manuel Pereira Guimarães.
Manuel Ribeiro de Faria.
Rodrigo Teixeira de Menezes.
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