Abel Cardoso, auto-retrato a carvão (1922) |
Já
abeirava os 50 anos de idade quando, no início de Abril de 1923, o
pintor vimaranense Abel Cardoso inaugurou no átrio da Misericórdia
do Porto a sua primeira grande exposição individual. No opúsculo
de apresentação da exposição, que incluía um texto do escritor
Raul Brandão sobre o pintor e a sua obra, Abel Cardoso é
apresentado como director e professor da Escola Industrial
“F. de Holanda”, ex-discípulo de Marques de Oliveira
na Acad. Portuense de Belas-Artes, de Paul Laurens e Benjamin
Constant na Acad. Julien, com menção honrosa, e de
Gérome na Ecole Nationale de Beaux-Arts (Paris).
Dias
depois, na sua edição de 9 de Abril de 1923, o jornal republicano
de Guimarães vimaranense A Razão publicava um texto em noticia o sucesso da
exposição do Porto, que teria surpreendido o pintor, que seria,
como os verdadeiros artistas: vítimas do seu talento, quando se
contemplam, veem-se sempre pequeninos.
Aqui
fica esse texto. Quanto à obra do pintor, pode ser apreciada até ao
fim deste mês de Outubro na galeria da Escola Secundária Francisco
de Holanda, onde foi aluno, professor e director.
Abel
Cardoso
É
com franco entusiasmo que hoje a a “A Razão” vem referir-se a
Abel Cardoso.
Conhecido
por todos sobejamente como um homem, na mais absoluta significação
da palavra, poucos, no entanto, terão avaliado com a verdadeira
justiça os seus méritos de Altista, devido à modéstia de que é
dotado e que lhe apontamos como único defeito.
O
triunfo que Abel Cardoso acaba de conquistar, sem com isso
pretendermos denunciar o seu pensamento mais íntimo, surpreendeu-o.
Não
queremos negar a consciência da sua Obra; bem ao contrário,
pretendemos, tão somente, mostrar a vontade criadora a que nele
impera e que o apouca quando não ouve “os humildes”,
da tela onde os abandonou, pedirem-lhe uma esmola, “as ondas”
encresparem-se e virem quebrar-se em cachões de espuma, junto a seus
pés, no atelier tranquilo onde trabalha!
E,
porque não consegue esse milagre, Abel Cardoso esconde-se na sua
modéstia, acha incompleta a sua Obra!
São
sempre; assim os verdadeiros artistas: vítimas do seu talento,
quando se contemplam, veem-se sempre pequeninos.
Ao
grande artista, glória desta terra, apresenta a “Razão” as
felicitações mais sinceras, pelo triunfo que a Justiça acaba de
lhe conceder.
A
Razão, 9 de Abril de 1923
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