O Convento da Costa visto da rua Dr. José Sampaio, como não o voltaremos a ver. Fotografia do início do século XX. |
A
decadência das festas dos estudantes de Guimarães a S. Nicolau, no
terceiro quartel do século XIX, ficou a dever-se ao fim das aulas de
latim, depois da aposentação do professor Venâncio. Os que as
fizeram reaparecer, em 1895, não frequentaram o liceu em Guimarães,
porque aquela escola ainda não existia (nasceria no ano seguinte,
com a transformação do “seminário pequeno” da Colegiada de
Nossa Senhora da Oliveira, que começara a funcionar em Dezembro de
1891, em liceu nacional, com os seus custos a correrem por conta do
erário municipal).
Mesmo
não havendo liceu, no final da década de 1880, o ensino secundário
tinha ressurgido em Guimarães, com a abertura do Colégio de S.
Dâmaso, que funcionou no antigo convento da Costa, onde estudaram
muitos dos grandes animadores e guardiões da memória das Festas
Nicolinas (incluindo aquele que lhes inventou o nome, João de
Meira).
Quem
organizou e custeou a festa da inauguração do Colégio de S. Dâmaso
foram dois muito voluntariosos empregados do comércio da Porta da
Vila, Albano Belino e Albano Pires de Sousa. Anos mais mais tarde, na
sua obra maior, Arqueologia Cristã,
Albano Belino incluiu, na descrição da igreja paroquial de Santa
Marinha da Costa, a história da criação e abertura do Colégio de
S. Dâmaso. Aqui se recorda.
O
Colégio de S. Dâmaso
Sob
a protecção de el-rei D. João III fundou-se neste convento um
estabelecimento científico com foros e regalias de Universidade,
como diz o talentoso padre António Hermano, para o estudo de
humanidades, Filosofia e Teologia, sendo os lentes autorizados a
conferir os graus de licenciados, bacharéis e mestres em Artes.
Instruíram-se e educaram-se nela os infantes D. Duarte e D. António,
filho do infante D. Luís.
Em
1889, quando ainda Guimarães não possuía um único estabelecimento
de ensino secundário, alguns padres beneméritos fundaram neste
arruinado convento um Colégio denominado de S. Dâmaso, o ilustre
Pontífice vimaranense. A cidade, pouco habituada a benefícios
grandes, recebeu com indiferença o feliz melhoramento, porque
duvidava do êxito que alfim se obteve!
O
autor destas linhas (permita-se-lhe a imodéstia) promoveu-lhe então,
com outro seu amigo, uma festa inaugural brilhante, apenas custeada
pelos dois.
Este
Colégio foi instalado à pressa, num breve intervalo de férias de
Verão.
O
inicial corpo docente e discente destacou-se do Colégio de Santa
Quitéria do vizinho concelho de Felgueiras. Constituíram-se em
Direcção os padres seculares, seus fundadores, António Hermano
Mendes de Carvalho, Firmino António da Silva Bravo, e Domingos Dias
de Faria, abrindo-se o Colégio no dia 6 de Outubro do referido ano
de 1889 com aulas para os cursos secundários dos liceus e
seminários.
Teve
de princípio logo uma frequência vistosa e animadora: eram 75
alunos internos e 25 externos.
Nos
anos seguintes o numero de estudantes aumentou até cerca de 200
internos.
Essa
notável prosperidade, deveu-a o estabelecimento ao êxito singular
obtido nos exames no liceu de Braga. Um ano os Directores até
julgaram conveniente inventar as reprovações para que ao público
não parecesse inverosímil o quadro sem sombras das numerosíssimas
aprovações e distinções!
Nos
últimos anos, por influência da reforma de instrução secundária
de 1894, a população escolar algo tem diminuído, todavia tem
mantido a auspiciosa cifra de 100 colegiais.
O
edifício é grandioso e o local superrimamente salubre. Vizinho de
Guimarães, ligava-o todavia à cidade um caminho pior que um
calvário ; mas hoje graças aos esforços de alguns vimaranenses e
da Direcção do Colégio, serve-o uma bela estrada de macadame que
principiou a ser construída no dia 1.º de Março de 1898.
Albano
Belino, Arqueologia Cristã,
Empresa da História de Portugal, Lisboa, 1904, pp. 205-207
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