Albano Belino: Estudos Bracarenses



Acaba de ser lançado o livro  Albano Belino: Estudos Bracarenses, que reúne as obras que aquele autor dedicou à epigrafia e à arqueologia do concelho de Braga (que também tocam o de Guimarães). A edição é da Câmara Municipal de Braga, com a colaboração da Biblioteca pública de Braga, e foi organizada por Rui Ferreira, com tratamento gráfico de Ana Amorim. A mim, coube-me escrever a introdução. A apresentação aconteceu no dia 28 de Setembro de 2018, no Museu D. Diogo de Sousa, em sessão pública de homenagem a Albano Belino, no quadro do programa com que em Braga se assinalaram as Jornadas Europeias do Património.
Albano Belino é uma figura singular na cultura portuguesa da viragem do século XIX para o século XX. Foi arqueólogo, epigrafista, etnógrafo, jornalista, poeta, activista de causas cívicas. Foi membro de instituições culturais e científicas relevantes, como a Sociedade Martins Sarmento, de que foi sócio correspondente, a Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses, a Sociedade de Geografia de Lisboa, o Instituto de Coimbra, a Comissão Central do 1.º de Dezembro de 1640, a Sociedade de Arqueologia da Figueira da Foz. Em Espanha, foi sócio correspondente da Real Academia de la Historia, sócio honorário da Sociedade Arqueolóxica de Pontevedra, sócio emérito da Sociedad Arqueológica de Toledo. Por convite do escritor Ramalho Ortigão, integrou a Comissão dos Monumentos Nacionais. É autor de uma bibliografia científica de relevo, publicada em livros ou em revistas como a Revista de Guimarães, O Arqueólogo Português ou a Portugália. No entanto, não possuía qualquer diploma de estudos, nem sequer o de instrução primária.
A volume, com 836 páginas, reúne nove trabalhos de Albano Belino, publicados em livro e na revista O Arqueólogo Português, dirigida por José Leite de Vasconcelos.
O primeiro, Inscrições e letreiros da cidade de Braga e algumas freguesias rurais, é um levantamento sistemático de inscrições posteriores à época romana que Belino identificou em mais de meia centena de locais da cidade e dos arredores de Braga. Terá sido iniciado em meados de 1894, quando o autor se viu obrigado a suspender o projecto que tinha em mãos, a coleccionação de apontamentos para a história do Convento de S. Francisco de Guimarães, enquanto aguardava por cópias de documentos do arquivo daquela instituição, que andava disperso desde 1834. O livro, que inclui uma carta-prefacial de Pereira Caldas, reúne largas dezenas de inscrições que Albano Belino recolheu, transcreveu e anotou.
Editado no mesmo ano, o volume Inscrições Romanas de Braga (Inéditas), é apresentado por Belino como um ensaio de epigrafia romana sobre as seis inscrições latinas que já tinha divulgado em artigo da Revista de Guimarães.
No terceiro trabalho, Novas Inscrições Romanas. Albano Belino estuda sete inscrições romanas e alguns fragmentos de valor, até aí inéditos, que encontrara nas suas prospecções arqueológicas no concelho de Braga.
Segue-se Arqueologia Cristã, a obra de maior fôlego de Albano Belino. Com o subtítulo Descrição Histórica de todas as igrejas, capelas, oratórios, cruzeiros e outros monumentos de Braga e Guimarães, é o primeiro inventário sistemático do património religioso edificado dos dois concelhos minhotos onde Albano Belino passou a maior parte da sua vida. Escrita com o propósito de servir de guia a quem pretendesse examinar mais de perto os monumentos inventariados, a Arqueologia Cristã de Belino não se limita à descrição dos edifícios, incluindo, em muitos casos, a notícia do património móvel das igrejas e das capelas de que trata.
O volume encerra com os textos de Albano Belino publicados pela revista O Arqueólogo Português, onde se inclui o seu último livro, Cidades Mortas – Relatório das minhas explorações nas estações arqueológicas suburbanas de Braga, e nomeadamente no Monte Redondo, a obra em que o arqueólogo trabalhou nos últimos anos da sua vida e que estava concluída aquando do seu desaparecimento prematuro. Teve edição póstuma de José Leite de Vasconcelos no número XIV (1909) daquela revista e trata das prospecções arqueológicas de Belino no Monte Redondo, no Monte de Santa Marta e no Monte das Caldas.

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