Guimarães, ao contrário
de outras cidades portuguesas, não tem tradições de transportes
urbanos de tracção eléctrica. É certo que, nas primeiras décadas do século XX, chegaram a haver alguns projectos de ligações interurbanas movidas a electricidade a partir de Guimarães que nunca
saíram do papel (em 1906, foi apresentado um pedido de concessão de privados,
encabeçados por Paulo Ferreira, para o estabelecimento e exploração, por 75
anos, de uma linha de tracção eléctrica entre Guimarães e Famalicão; em 1916 a
Câmara Municipal de Guimarães foi autorizada a contrair um empréstimo para
instalar um serviço de tracção eléctrica de ligação a Braga; em 1922 chegou a
ser publicada uma portaria abrindo concurso público para “adjudicação e
assentamento de uma linha férrea de tracção eléctrica e respectiva exploração
pelo prazo de 75 anos, para transporte de passageiros e mercadorias, entre
Braga e Guimarães, assente sobre o leito da estrada nacional n.º 27”).
Foi
preciso chegar ao século XXI para que a mobilidade urbana de tracção eléctrica
se tornasse uma realidade em Guimarães. Infelizmente, para já, não tanto, como seria desejável, ao
nível dos transportes públicos (eu sei que já circula em Guimarães um autocarro
eléctrico, mas a sua relevância tem uma dimensão mais no plano simbólico do que que na transformação da pobre realidade dos nossos transportes públicos urbanos),
mas no plano do transporte individual.
É uma tendência que se afigura
irreversível, no âmbito da mobilidade urbana, cujos paradigmas estão em
processo de mutação acelerada: os automóveis movidos a electricidade vieram para
ficar, mas ainda têm limitações no quadro da sua autonomia, decorrente da
capacidade de armazenamento das respectivas baterias. Para já, não há volta a
dar: os veículos de tracção eléctrica, para funcionarem, têm que ser carregados
com frequência. Para isso, haverá que ter uma rede de postos de carregamento de
malha relativamente fechada. O que em Guimarães, que neste campo assumiu algum
pioneirismo, já vamos tendo.
No entanto, quem compreendeu que a mobilidade eléctrica
será uma peça relevante para uma mobilidade sustentável e para o aumento da eficiência
energética nos transportes e optou por investir na aquisição de um automóvel eléctrico ou de um
híbrido plug-in, tem hoje que percorrer uma irritante (e pouco ecológica) via-sacra
para encontrar em Guimarães um posto de abastecimento que esteja a funcionar.
No dia desta semana em que foi colhida a fotografia que aqui se publica, a ficha que ela mostra era a única em funcionamento, das quase duas dezenas que já compõem a rede
que a empresa MOBI.E tem instalada em Guimarães. As outras, estavam fora de serviço, aparentemente por falta de manutenção. Não se percebe.
Assim, não
há mobilidade sustentável que resista.
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