Aspecto do Castro de Sabroso durante a campanha de 1958, dirigida por Christopher Hawkes, professor de Arqueologia Europeia na Universidade de Oxford . |
Em
S.
Lourenço
de Sande fica um importante povoado proto-histórico fortificado,
vulgo castro, que o padre da freguesia ignorou na sua resposta ao
questionário de 1758. Do sítio onde estão as ruínas do Castro de
Sabroso, onde e Martins Sarmento começou a fazer explorações
arqueológicas em Setembro de 1877, apenas nos diz que “pelo
Nascente, está um monte chamado de Sabroso, de onde se tira muita
pedra para obras de casas, por ser boa”. Um
pouco mais à frente, escreverá que “este
monte só produz sargaço e algum tojo, erva brava, pouca, e
carvalhos e sobreiros em partes”. As mimosas chegaram depois...
São
Lourenço de Sande
Declaração
do que se contém nos interrogatórios juntos aos cinco de Abril de
1758 nesta freguesia de São Lourenço de Sande.
1. Está
esta freguesia de São Lourenço de Sande sita na Província de
Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado de Braga, comarca e termo de
Guimarães.
2. É
terra de el-rei Nosso Senhor, sujeita às justiças da vila de
Guimarães. Não tem donatário, só os dízimos e primícias são do
Marquês de Valença.
3. Tem
cento e vinte vizinhos ou fogos, trezentas e trinta pessoas de
sacramento, fora os ausentes, que são quarenta, e fora os menores,
que são setenta.
4. Está
situada num ameno vale, plano e chão, e dela se descobrem, para a
parte do Sul, duas léguas de campinas e freguesias, até à vila de
Guimarães, e, pelo Nascente se não descobre nada, por se meter de
permeio o monte de Sabroso. Pelo Norte se descobre a freguesia de
Santa Cristina de Longos, com quem parte, e, pelo Poente, só
descobre a do Salvador de Balazar, com quem parte.
5. Não
tem termo seu, que é do da vila de Guimarães, como já se disse no
primeiro interrogatório.
6. A
paróquia está situada no meio de um lugar chamado o Burgo, cujo tem
trinta e cinco vizinhos, e consta dos lugares seguintes a freguesia
toda, convém a saber, Assento da Igreja, Eira da Telhada, Barroca,
Eira Velha, a Barranha, a Telhada, o Rio, o Carvalho, as Moreiras,
Burgo, Além do Rio, Fojo, a Carreira, Casal Ferreiro, as Barreiras,
Outeiro do Muro, Agro Longo, a Boucinha, o Souto, Cucherre, Casal
Novo, a Tomada, o Outeiro, Trabanca, o Rego, a Rechão, a Ouzanda, o
Tapado, o Cabo, Currelos, Cariá, a Cancela, a Boavista, os Sobreiros
e não tem mais lugares e em todos eles vivem as trezentas e trinta
pessoas já declaradas e os menores.
7. É o
seu orago o invictíssimo mártir São Lourenço. Tem três altares,
scilicet,
o altar maior, onde está São Lourenço, à mão direita do dito
altar, no frontispício, um Senhor Crucificado. Imagens de vulto: São
Silvestre, o Menino Deus, o Espírito Santo; em pintura, Nossa
Senhora das Angústias ao pé da cruz e o Evangelista, mimosa, São
Bento e Santa Gertrudes. Não tem sacrário. No colateral, da parte
do Evangelho, estão no frontispício dele Nossa Senhora das Candeias
e o glorioso São Sebastião. No da parte da Epístola, Santo António
e São Caetano. E não há outros santos. Não tem nave alguma. É
igreja moderna, de sessenta e dois palmos de comprido e trinta de
largo até ao arco cruzeiro. A capela maior tem trinta palmos de
comprido e vinte de largo, com sua sacristia da parte do Evangelho.
Não tem irmandades mais que a de São Lourenço e essa com pouco
rendimento.
8. É o
pároco vigário perpétuo e colado da apresentação do reitor do
Mosteiro de São Martinho de Sande, cujos frutos dela e esta anexa
come o Excelentíssimo Marquês de Valença, Conde de Vimioso.
Renderá para este, com dízimos e rendas sabidas, o melhor de
quatrocentos mil réis e a matriz outro tanto. Tem somente o pároco,
de ordenados pagos pelos frutos da comenda, dez mil réis e, com as
ofertas dos fregueses e pé de altar, renderá cada um ano, para o
vigário, oitenta mil réis, pouco mais ou menos.
9.º,
10.º, 11.º, 12.º. Não há que declarar, porque não há
beneficiados, conventos, hospitais, nem casa de misericórdia.
13. Tem,
dentro dos limites desta freguesia, no monte chamado de Sabroso, que
fica para a parte do Nascente, uma capela com a invocação do
Espírito Santo, com uma capela maior feita ao moderno. E, no altar
maior, está no frontispício do retábulo, em vulto, a imagem do
Espírito Santo e, da parte direita do altar, Santa Catarina virgem e
mártir e, da parte esquerda, Nossa Senhora dos Prazeres. Tem sua
sacristia para a parte do Norte, com seu Cabido. Dela se descobre
distância de quatro, cinco ou seis léguas de terra. Tem, no corpo
da capela, abaixo do arco cruzeiro, para a parte do Norte, um altar
com a invocação do Arcanjo São Miguel. Esta capela é dos
fregueses e administrada pelos párocos.
14.
Celebra-se todos os anos, no próprio dia do Espírito Santo, o
mesmo, com missa cantada, sermão e procissão ao cruzeiro. Nesse
dia, acode grande concurso de povo ao dito monte de várias
freguesias, de romagens. Nos mais dias do ano, pouco povo, excepto
alguma pessoa de romagem, quando lhe pede a sua devoção.
15. Os
mais abundantes frutos que os moradores colhem são milho maís,
milho alvo ou, por outro nome, milho miúdo, centeio, trigo, muito
pouco, e vinho de enforcado, muita abundância, muito feijão,
castanhas, muita fruta de maçãs de várias castas, peras, não
tantas, ameixas poucas, landres para os cevados, linhos, boas hortas
de couves galegas, que é o melhor manjar desde Novembro até Abril.
Os olhos delas com boi, vaca e presunto, excedem a todo o bom
mantimento. É abundante de muita carne de porco, boa carne de vaca,
muito gado vacum,
muita galinha, frangos e ovos, caça pouca.
16. Não
tem juiz ordinário, nem câmara. Está sujeita às justiças da vila
de Guimarães, assim provedor como corregedor, câmara, juiz de fora,
juiz dos órfãos, há justiça que chamam o rendeiro das penas, que
essa é o maior flagelo do pobre povo, de o vencer com condenações
v.g. se fica condenado, se o não tem condenado, não sabe o povo
como há-de viver com tal justiça ―
parece mais zelo de comer do que serviço de Sua Majestade
17. Nada.
18. Nada.
19. Nada.
20. Não
tem correio. Serve-se do da cidade de Braga, que dista desta
freguesia uma légua, pouco mais ou menos, e do da vila de Guimarães,
que dista duas léguas, ficando a dita vila para a parte do Sul e a
cidade de Braga para a parte do Norte.
21. Dista
da cidade de Braga, capital do Arcebispado, uma légua pouco mais ou
menos, e da de Lisboa, capital do Reino, conforme me dizem, sessenta
léguas, pouco mais ou menos.
22. Não
há privilégios mais que um de Nossa Senhora da Oliveira da vila de
Guimarães, nem antiguidades dignas de memória.
23, 24,
25. Nada de que se dê notícia.
26. Não
padeceu ruína alguma no terramoto de mil setecentos e cinquenta e
cinco. Somente de memória uma quinta chamada Casal Ferreiro, que
ainda hoje conserva um olival como um labirinto, posto por ordem de
sorte que, de todas as partes, faz uma rua sem que coisa alguma
impeça a sua direitura. Foi, algum dia povoada, de várias árvores
nunca vistas. É esta terra povoada de árvores de castanheiros,
carvalhos, salgueiros e nestas dá Deus muita abundância de vinho
que para se podarem e vindimarem são necessárias escadas de quinze
e devasseis degraus.
Não há
serra digna de memória. Pela parte do Poente tem um monte que
entesta na freguesia chamado Pena Cobertoura, no alto com grandes
penedos. Cria muito tojo para os lavradores fertilizarem os seus
campos com os estercos que com ele fazem. Tem nessas partes muitos
carvalhos e alguns castanheiros. Este monte, na direitura do mesmo
Poente, corre espaço de meia légua e vai acabar à freguesia de São
Martinho de Leitões. E, para a parte do Sul, leva um braço que vai
acabar à de São Clemente de Sande, distância de meia légua. Não
dá outro fruto mais que o tojo e erva brava para pasto de gado. E,
pela parte do mesmo Poente e cercando a Norte até ao Nascente, é
cercado, e suas duas circunvizinhas, o Salvador de Balazar e Santa
Cristina de Longos, de uma serra chamada a Falperra que começa no
monte de Santa Marta, áspero e alto, onde existe uma ermida da mesma
santa entre grandes penedos. Dizem que foi habitada de Mouros. E, daí
a trezentos passos, pouco mais, está um templo magnífico feito à
romana, com a invocação de Santa Maria Madalena, que fica na
estrada que vai direita para Braga. Esta serra só cria tojo e pastos
para gados e, em partes, tem carvalhos e sobreiros. E, pelo Nascente,
está um monte chamado de Sabroso, de onde se tira muita pedra para
obras de casas, por ser boa. Este monte, em direitura do mesmo
Nascente, pouco mais de um quarto de légua, vai acabar à freguesia
do Salvador de Briteiros. E, pelo Sul, está toda descoberta e parte
por aí com a freguesia de Santo Tomé de Caldelas e com a de São
Martinho de Sande. Este monte só produz sargaço e algum tojo, erva
brava, pouca, e carvalhos e sobreiros em partes.
Não há
rio nesta freguesia, somente um ribeiro chamado o rio de Febras, que
corre do Norte para o Sul. No Inverno é grande e de Verão seca-se
de todo. Somente cria alguma truta e nada mais. Não tem pontes, só
algum moinho de moer pão. Vai-se meter ao rio do Ave
O padre
Miguel de Abreu Pereira, vigário da paroquial igreja de São
Lourenço de Sande termo de Guimarães deste Arcebispado de Braga
Primaz. Certifico que tudo o supra, escrito na forma dos
interrogatórios juntos, é tudo verdade. E por não achar mais
notícias que dar, passo esta, que vai assinada pelo reverendo
Francisco José Soares, vigário do Salvador de Balazar, e pelo
reverendo Pedro Lopes Garcia, vigário de Santa Cristina de Longos,
ambos párocos mais vizinhos desta freguesia. O que, sendo
necessário, o afirmo in
verbo sacerdotis.
São Lourenço de Sande, 15 de Abril de 1758 anos.
O vigário
do Salvador de Balazar, o padre Francisco José Soares.
O vigário
Pedro Lopes Garcia.
O vigário
desta Miguel de Abreu Pereira.
“Sande,
São Lourenço de”, Dicionário Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo,
Vol. 33, n.º
46, p. 317 a 322.
[A
seguir: São Martinho de Sande]
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