Capela de Santa Maria Madalena (Longos, Guimarães) |
Santa
Cristina de Longos já
se chamou Olivença e, como a outra Olivença, também é território
de hesitações
fronteiriças. É lá que fica a igreja de Santa Maria Madalena, que
teimam em levar para Braga (é ver a Wikipédia
ou o SIPA,
da Direção-Geral do Património Cultural). Da
Wikipédia já nada digo, mas custa
a perceber como é que um organismo oficial, que deveria ser mais
cuidadoso com a informação que publica, continue, no dia de hoje, a
situar o Santuário de Santa Maria Madalena / Santuário da Falperra
em, sic, Portugal,
Braga, Braga, União das freguesias de Nogueira, Fraião e Lamaçães.
Que
eu saiba, nem a igreja mudou de sítio, nem houve, em tempos
recentes, alteração das delimitações do concelho de Guimarães.
Assim sendo, a capela de Santa Maria Madalena ainda fica em Longos, como ficava no tempo em que o pároco da freguesia escreveu a
sua resposta ao questionário das memórias paroquiais de 1758. Ai se lê que, no tocante a ermidas, em Longos havia, entre
outras, “duas
de Santa Maria Madalena, a nova e a velha, sitas no alto da serra da
Falperra, ao pé da estrada que vai de Braga para Guimarães, e as
administra uma confraria da mesma Santa”.
Nesta
memória paroquial não há referência a um antigo uso desta
freguesia, que refere o Abade de Tagilde, citando Argote, que remete para as
Antiguidades
de Entre-Douro-e-Minho,
do doutor João de Barros: os fregueses eram obrigados, em dia de
Santa Maria Madalena, a dar ao pároco três figos lampos e uma
cabaça de água.
Longos
Declaração
do que se me pede do que contém esta freguesia de Santa Cristina de
Longos, etc., respondendo aos interrogatórios seguintes.
1. Fica
na Província do Minho, Arcebispado de Braga, comarca e termo da vila
de Guimarães.
2. É do
domínio e senhorio da Coroa Régia.
3.Tem,
vizinhos, duzentos e vinte e, pessoas de sacramento, seiscentas e
doze.
4. Está
situada, quase metade da freguesia, numa fralda e garganta de uma
serra chamada da Falperra e, a outra parte dela, num vale que fica
contíguo. E, do alto da mesma serra, se avista a cidade de Braga e a
vila de Guimarães e dista daquela uma légua e desta duas.
5. Não
tem termo seu, mas sim é do de Guimarães. Não tem lugares senão
alguns pequenos e aldeia nenhuma e, à maior parte das habitações,
se deve chamar casais, por ser quase tudo prazos de nomeação e cada
um morar dentro ou [no] limite do seu, e, por nome e número, são os
seguintes: o prazo e casal do Redondo, os dois de Magros, lugar do
Telhado, o da Devesa, os dois casais da Aldeia, os dois de Real,
lugar da Laje, a Quinta da Falperra, lugar da Boavista, o do Outeiro
de Oleiros, casal da Barroca, o de Esmoriz, os três do Sobrado, os
quatro da Ordem, o da Levada, o lugar de Entre-as-águas, os três
casais de Mouriçó, os dois de Gondarela, o de Vale Pessegueiro, o
da Reguenga, o da Pequita, o da Fontainha, a Quinta de Francisco
Filipe de Sousa, o de Casal, o do Bacelo, o do Lugarinho, o da Mó,
os quatro das Pedras, o lugar da Quintã, os dois de Carvalhal, o de
Galego, o da Costa, o de Toros, os dois do Fojo, o do Loureiro, o da
Bouça da Barranca, o da Tojeira, o do Ribeirinho, os dois de Grijó,
o do Souto do Vale, da Bouça de São Simão, a Quinta de São
Martinho, o de Teloim, o de Fornos, o de Perlinhos, lugar dos
Pedrais, os dois da Rateira, o lugar da Herdeira, dois de Borgadela,
os dois da Barranca do Noval, o de Sarrazinho, os três do Outeiro, o
lugar das Eiras e da Vaca, o do Picoto, os dois de Ruela, os três de
Pena, a residência do pároco, os caseiros do Assento da igreja, que
todos estes casais e lugares têm, em pessoas, seiscentas e vinte, e
fogos, duzentos e doze.
6. A
igreja paroquial está situada no meio dela.
7. O seu
orago é a Virgem Mártir Santa Cristina. Tem o altar-mor, Santíssimo
Sacramento e dois colaterais, um de Nossa Senhora do Rosário e, o
outro, de Nosso Senhor Jesus Cristo Crucificado. Não tem naves. Tem
quatro confrarias, uma do Santíssimo Sacramento, outra de Nossa
Senhora do Rosário, outra do Santíssimo Nome de Deus, outra do
Subsino.
8. O
pároco é vigário da apresentação do Arcediago de Olivença,
vulgo de Santa Cristina, cabeça de mais cinco freguesias do mesmo
Arcediagado, e esta rende de presente, para ele, setecentos dez mil
réis e, junta com as mais, cinco mil duzentas e cinquenta cruzados
e, para o vigário, cem mil réis.
9. Não
tem beneficiados, senão o Arcediago, que é simples e, por morte do
qual, fica o benefício suprimido para a Santa Igreja Patriarcal, e o
Arcediago que apresentar Sua Santidade ou o Arcebispo de Braga há-de
ter, de côngrua, trezentos mil réis. Tem, de mais, um cura, para
ajudar o vigário, que tem, de côngrua, doze mil réis e vinte cinco
alqueires de pão, que lhe paga o benefício e o apresenta o vigário.
10. Não
tem conventos.
11. 12.
Não tem hospital, nem misericórdia.
13. Tem
seis ermidas. Duas de Santa Maria Madalena, a nova e a velha, sitas
no alto da serra da Falperra, ao pé da estrada que vai de Braga para
Guimarães, e as administra uma confraria da mesma Santa. A de São
Pedro e São Tiago, na mesma estrada e na fralda da mesma serra, que
aparamenta o mesmo benefício. A de Santo António, situada no monte
da Murteira, que a fabricam os vizinhos da mesma freguesia. A de
Nossa Senhora da Conceição, da quinta da Falperra, e a de São
Martinho, sita na Quinta do mesmo nome, e estas duas os possuidores
das mesmas quintas as fabricam e guisam.
14. Às
sobreditas ermidas de Santa Maria Madalena, quase todos os dias
festivos, vai a elas romagem e, nos mesmos dias, têm capelão que
lhe diz a missa, e o maior concurso é no dia da mesma Santa e de
Santa Marta, e às mesmas vão, em várias ocasiões do ano, de
várias freguesias cumprir votos com clamores em procissão e, nas
mais da freguesia, se diz nelas, vários dias do ano, missa e a elas
vêm também clamores de outras partes em procissão e, nos dias de
seus oragos, se lhes faz sua festividade.
15. Os
frutos que se colhem são limitadíssima quantidade de trigo, pouco
maior de centeio, abundância de toda a qualidade de milho e feijão
e de vinho verde e de toda a qualidade de fruta que se dá nesta
Província.
16. Tem
dois juízes do Subsino anuais,
que
não podem mais do que lhe determinam os ministros do concelho e
comarca, no secular, e sujeitos em todas as condenações do rendeiro
das penas do concelho, que de nenhuma ou pouca utilidade serve para a
Coroa Régia, e só o rendeiro e seus sócios enriquecem à custa dos
povos e pobres. E, no eclesiástico, o que lhe determinam seus
ministros e, algumas ocasiões, o pároco.
18.19.
Ainda poderá haver [homens insignes e feiras], que até ao presente
não consta ter havido.
20.
Serve-se do correio de Braga ou do de Guimarães, que aquele dista
uma légua e este duas.
21. Dista
da cidade de Braga uma légua e, da de Lisboa, sessenta.
2. Não
há privilégios alguns, senão uns três moradores, que o são das
Tábuas Vermelhas.
23.24.25.
Não há que dizer.
26. Não
houve ruína no terramoto de cinquenta e cinco de que haja de se
fazer memória.
27. Não
há mais de que se dê notícia que não esteja dito.
********
1.2. Tem
esta freguesia, da parte do Norte, uma serra chamada a da Falperra.
Tem seu princípio para a parte do Nascente, ao pé do Castelo de
Lanhoso e, de lá até aqui, tem várias denominações. Passando o
distrito desta freguesia, vai correndo entre o Poente e Sul com
outras várias nomeações e finda, de aqui duas léguas, onde chamam
Joane, e principia distante deste sítio outras duas léguas.
3. Não
tem a dita braço no distrito desta freguesia que tenha outro nome
senão a serra da Falperra.
4. Não
tem rio algum dentro do seu sítio, senão vários ribeiros que
nascem de fontes da mesma serra, que só têm sua corrente para regar
os campos e não de origem para dar nome a outros.
5. Já
fica dito no primeiro quarto interrogatório.
6. Não
há fontes de propriedades raras, se não fosse de excelente
qualidade de água a fonte de Candaíde e a do Voca, porém os
moradores são mais amigos, de ordinário, do vinho verde, assim
azedo, do que da melhor água.
7. Não
há tradição que na dita serra em tempo algum houvesse mineral de
qualidade alguma de metais.
8. É
povoada de várias árvores silvestres e matos e os moradores que
nela são habitadores recolhem os mesmos frutos que produz o vale.
9. Não
há nela mosteiro algum, somente as duas ermidas de Santa Maria
Madalena, como dito fica.
10. É de
temperamento a terra fria e o ar cálido, por cuja causa as árvores
sobem a grande altura e, nas mais altas árvores, as frutas são as
mais maduras e gostosas, e pelo contrario às do pé da terra.
11. Nela
pasta toda a qualidade de animais domésticos, só de dia, que de
noite não andam seguros, que os mudam várias vezes pessoas que não
lhe pertencem, e seus donos os ficam perdendo e, por esta causa
sempre os recolhem todas as noites, podendo. E, às vezes, sucede de
dia, o que não deve causar dúvida, que é a serra da Falperra, que
é antigo nela haver propriedade de semelhantes transgressores. Nela
há perdizes, alguns coelhos e poucas lebres.
12.13.
Destes interrogatórios não há nada que dizer.
Interrogatórios
de rios.
Não há
mais que dizer do que o penúltimo quarto artigo, e tenho dito o que
entendo.
O vigário
de Santa Cristina de Longos, Pedro Lopes Garcia e o mais que disserem
os reverendos vigários de São Lourenço de Sande, e o do Salvador
de Balazar, ambos vizinhos mais chegados, o primeiro chamado Miguel
de Abreu Pereira e, o segundo, Francisco José Soares.
O vigário
de São Lourenço, Miguel de Abreu Pereira.
O vigário
do Salvador de Balazar, Francisco José Soares.
“Longos”,
Dicionário Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo,
Vol. 21, n.º 114,
p. 1085 a 1089.
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