O Castelo de Guimarães, numa fotografia do início do século XX. |
Em 1908, quando o Castelo de Guimarães estava votado ao abandono, “servindo de depósito de pólvora e dormitório de corujas”, eram cada vez mais audíveis as vozes que exigiam a regeneração da velha fortaleza que assistiu aos primeiros alvores da nacionalidade portuguesa. A impressa local deu voz a uma campanha em defesa do monumento, em que sobressaiu uma longa série de artigos publicados no O Comércio de Guimarães. Aqui fica o segundo texto da série, publicado no dia 17 de Julho.
~*~
O
Castelo de Guimarães
II
Voltemos
ao assunto, que não interessa só a esta cidade, mas a toda a nação — a
reparação do castelo de Guimarães, um monumento nacional de grande valor
estimativo.
Ele
aí está, no mais condenável abandono, servindo de depósito de pólvora e dormitório
de corujas!
Esse
velho monumento, que tantas vezes abrigou o primeiro rei de Portugal, valente
como as armas, patriota ao ponto de fazer uma nacionalidade, esfacela-se de ano
para ano, por falta de um pequeno gasto do tesouro!
Se
vem um visitante ilustre a esta terra, e pergunta por essa relíquia veneranda,
mal se lhe pode indicar, porque visitando-a, faria de todos em geral, e em especial
dos vimaranenses, a mais triste ideia, como assim já sucedeu uma vez.
Pois
é preciso que se diga, que nós o vimos percorrer de extremo a extremo das suas
ameias desmoronadas, com os olhos rasos de lágrimas, recordando-se do muito que
ele contribuiu para a grandeza da nossa querida Pátria.
“Velhinho,
e tão abandonado, tu que foste em novo, valente e destemido.”
“É
a ingratidão das ingratidões, nos disse ele.”
— Respondemos-lhe: está da posse do Estado, que se fosse da Câmara, não estaria assim,
por certo.
O Comércio de
Guimarães, 17 de Julho de 1908
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