Alunos matriculados no ensino superior: total e por sexo - Municípios. Fonte: PORDATA, consultada em 15.04.2017 |
Eis um diálogo que, nos
últimos tempos, se tem repetido, de diversos modos e a propósito de tudo e mais alguma coisa, nas redes sociais:
“— Guimarães está à beira da
catástrofe!
— Como disse?
— Não acredita? Vá consultar a
PORDATA.”
Fui.
Percorro os quadros
estatísticos, uns a apontarem para cima, outros para baixo, outros para o lado, sem que nada encontre que justifique afirmação tão categórica,
até que esbarro no indicador “alunos matriculados no ensino superior: total e
por sexo – Municípios”, que mostra “onde há mais e menos homens ou mulheres a
frequentar o ensino universitário e politécnico”.
O que vejo, deixa-me num
estado de profundo desalento. São dados arrasadores, que confirmam e superam as
teses mais catastrofistas.
Então não é que, segundo a PORDATA,
a nova fonte de fé, Guimarães tem menos estudantes a frequentarem o ensino
superior do que a Póvoa de Lanhoso? Que em Fafe se multiplica por cinco o
número de estudantes universitários de Guimarães? E que em Famalicão são 16
vezes mais? E que em Barcelos, em Barcelos, senhores!, há 54 vezes mais
estudantes a frequentarem o ensino superior do que em Guimarães? E que em Braga,
S. Torcatinho nos valha!, por cada estudante universitário de Guimarães, se
contam 264 alunos do ensino superior?
Rendo-me. Têm razão os
profetas da desgraça. Isto é mais do que a desgraça, é o fundo do abismo.
Grande é a PORDATA!
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PS: Como é evidente, estes
dados da PORDATA estão errados. Nem Guimarães tem tão poucos alunos a
frequentarem o ensino superior, nem são assim tantos os de Braga. O erro é
fácil de explicar e traz de arrasto um outro erro. A PORDATA apenas considera um estabelecimento de ensino superior a funcionar em Guimarães. Na realidade, são dois
(e, a concretizar-se a instalação da Escola Superior de Hotelaria e Turismo,
recentemente anunciada, serão três): a Universidade do Minho (UM) e a Escola Superior
Artística de Guimarães (ESAG). Olhando para o quadro da PORDATA, percebe-se que
apenas considera os estudantes da ESAG, alocando a Braga todos os matriculados
na UM, incluindo os que estudam em Guimarães, nos campi de Azurém e de Couros. Portanto, a informação a PORDATA está
errada, mas não tem grande mistério. E recorda-nos uma prevenção básica que devemos ter sempre
presente quando trabalhamos com dados estatísticos que não sabemos como foram construídos: se estes dados estão errados, quem nos garante que todos os outros estejam certos?
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