As eleições da semana passada marcam um novo ciclo na governação
municipal vimaranense. Entre os que saem e os que entram de novo, assiste-se a
uma profunda renovação dos protagonistas. Na Câmara, há um novo Presidente e,
dos 10 vereadores que se sentam na mesa de Santa Clara, há 7 estreantes. Resta
saber o que mudará de facto, sabendo-se que os tempos que aí vêm serão de maior
aperto financeiro. Entretanto, aqui fica um olhar sobre os resultados das
eleições em Guimarães, da esquerda para a direita.
1. Uma das expectativas das eleições autárquicas do dia 29 de Setembro
era saber qual seria o “efeito Magalhães” sobre o resultado das urnas. Ao longo
dos 24 anos em que António Magalhães se manteve à frente dos destinos do
município, Guimarães passou por um processo de transformação que apostou na
renovação da cidade sem a descaracterizar. Os resultados estão à vista: a qualidade
de vida melhorou notoriamente, o Centro Histórico foi reconhecido como Património
Mundial, Guimarães foi Capital Europeia da Cultura, os seus encantos são elogiados
pelos que a visitam. Basta sair à rua para se perceber que a cidade já se
tornou num destino turístico de eleição. A obra feita era um trunfo eleitoral
para quem se apresentasse à sucessão do homem que, em toda a história, mais
tempo esteve à frente dos destinos do município de Guimarães, mas era também um
desafio sério para quem lhe sucedia, até porque, como se viu na campanha eleitoral, parte das cartas
que foram jogadas pela coligação que desafiava a continuidade dos socialistas à
frente da Câmara Municipal de Guimarães apostavam na depreciação do novo cabeça
de lista do PS.
O Partido Socialista tem mantido consistentemente, desde 1989, votações à
volta de 50%. Assim voltou a acontecer em 2013, em que obteve uma percentagem
praticamente igual à da primeira maioria absoluta de António Magalhães (47,3 %
em 1887, 47,6 % agora). Também no que toca ao número de vereadores eleitos se
manteve dentro da normalidade,
elegendo 6 (das sete eleições que se realizaram desde 1989, só em duas é que os
socialistas não elegeram 6 vereadores – em 1993 e 2009, anos em que alcançaram
7 eleitos).
O Partido Socialista e Domingos Bragança são, inegavelmente, os grandes
vencedores do dia 29 de Setembro de 2013. Mas António Magalhães também o é,
porque, além da obra que fica dos seus mandatos, teve o mérito de não deixar o
deserto atrás de si. Para perceber isto, basta olhar para o que aconteceu no
mesmo dia em Braga ou em Fafe.
Superada a prova das urnas, Domingos Bragança tem agora pela frente a
prova do fogo. Tem 4 anos para mostrar o que vale, já não como homem de
gabinete, mas como primeira figura da Câmara.
2. A um outro nível, a CDU e Torcato Ribeiro também têm lugar do lado dos
vencedores. Ao contrário do que alguns anunciavam, a sua candidatura a estas
eleições, que decorreram num contexto de bipolarização tão aguda como já há
muito não acontecia em Guimarães, não era fácil. Obteve uma votação ao nível
das eleições anteriores, assegurando calmamente uma eleição que, note-se, nunca
esteve em causa (para Torcato Ribeiro perder o lugar na vereação seria
necessário que o Partido Socialista obtivesse mais 9.319 votos ou que a
coligação PSD-CDS contasse mais 5.256 eleitores, o que, em ambos os casos, esteve
sempre fora de questão).
De notar ainda que a coligação liderada pelo PCP foi a candidatura menos
afectada pela redução dos deputados municipais eleitos directamente, que passaram
de 70 para 49. O PS elegeu menos 13 deputados (-35% dos que elegera em 2009),
a coligação de direita menos 6 (-24%), o Bloco de Esquerda perdeu metade dos seus
parlamentares, passando a ter um único, enquanto que a CDU passou de 6 para 5
eleitos (-17%).
Apesar de ter perdido uma junta de freguesia importante (S. Jorge de
Selho), no balanço das perdas e ganhos a CDU obteve um resultado inegavelmente
positivo, atendendo ao contexto em que as eleições se realizaram, que favorecia
a concentração de votos nos partidos que se apresentavam com possibilidades de
ganhar a Câmara.
3. Quanto ao Bloco de Esquerda, os seus resultados espelham o que já se
sabia. Vivendo essencialmente da exposição mediática dos seus dirigentes nacionais,
é um partido quase sem expressão a nível local, tendo agora obtido o seu pior
resultado de sempre em eleições autárquicas em Guimarães.
4. Nestas eleições, havia naturais expectativas em relação aos resultados
que poderia alcançar a coligação “Juntos por Guimarães”, que introduziu um
elemento novo na disputa eleitoral (a última vez em que PSD e CDS foram juntos
a eleições em Guimarães foi em 1982). A coligação juntava o PSD, partido que,
desde 1989, tem tido votações que rondam os 30%, elegendo entre 3 e 4
vereadores, o CDS, que já não elegia qualquer vereador desde 1989 e que, nas
eleições já realizadas neste século, ficou sempre abaixo dos 5%, e o MPT,
partido que apenas acrescentava uma espécie de contrapeso à coligação, já que apenas
lhe deu uma sigla, já que não tinha votos para lhe dar (quando concorreu a
eleições legislativas, teve 358 votos em Guimarães e uma percentagem de 0,38%).
A coligação vinha para ganhar. Foi a grande derrotada (derrota que foi assumida,
com assinalável dignidade e humildade democrática pelo seu candidato a
presidente da Câmara, André Coelho de Lima).
No entanto, dentro da coligação, nem todos perderam. Antes pelo contrário.
4.1. Desde logo, ganhou o MPT. Em Guimarães, nunca se apresentou listas em
eleições autárquicas. Os votos que trazia das eleições legislativas não
chegavam para eleger ¼ de deputado municipal. Ficando com um deputado, saiu
ganhador destas eleições.
4.2. O CDS é um partido que há muito entrou em declínio em Guimarães. Chegou
a ter, em 1976, 24% dos votos, quando o PPD tinha 25%, mas há mais de duas
décadas que não elegia qualquer vereador e não se lhe conhece presença recente ao
nível de freguesias. Numas eleições como se percebia que iriam ser as de 2013,
em que o Partido Socialista compareceria a votos sem o rosto que o conduzira a
vitórias sucessivas ao longo de mais de duas décadas, o CDS arriscava-se a ser varrido
do mapa autárquico de Guimarães. Nas últimas eleições, a sua representação
ficou-se por 4 deputados municipais, por força da concentração dos votos da
direita no PSD.
Em 2013, com a redução do número de deputados municipais, não elegeria
mais do que dois deputados, mesmo que mantivesse a percentagem de votos que
obteve nas últimas eleições. Porém, o seu cabeça de lista de 2009, que então foi
o 16.º deputado a ser eleito, encabeçou a lista da coligação para a Assembleia
Municipal. Em 2009, quando o CDS elegeu o seu segundo deputado, o PSD já tinha
10 eleitos. Em 2013, ao segundo deputado municipal eleito pelo CDS, o PSD não
elegera mais do que dois. Resultado: o CDS manteve os 4 eleitos de 2009, caso
único entre os grupos parlamentares resultantes destas eleições, já que todos
os outros viram as suas representações reduzidas. Por outro lado, tendo
alcançado em 2009 uma votação para a Câmara que daria para eleger meio
vereador, o CDS partiu para estas eleições com um vereador garantidamente
eleito. O CDS, que tinha tudo para perder é, sem saber ler nem escrever, o partido
que contabiliza ganhos mais significativos nestas eleições.
4.3. O PSD partia para as eleições do dia 29 de Setembro com expectativas
muito altas, que, entre os seus apoiantes, pareciam crescer com o tempo. O seu
objectivo era claro: vencer as eleições, ou seja, alcançar a presidência da
Câmara. Fez uma campanha bem pensada, apesar de alguns erros de palmatória,
porque alguns dos seus apoiantes com responsabilidades não terão percebido que
uma autarquia não é bem o mesmo que uma associação de estudantes. Foi o grande
derrotado. Bastando-lhe manter os mesmos votos das eleições de 2009 para eleger
4 vereadores (resultado normal em tempos recentes, que só não aconteceu na
última das três eleições da primeira década do século XXI), acabou por ficar reduzido
a 2.
Os resultados para a Assembleia Municipal foram particularmente
desastrosos. Recorde-se que, em 2009, o PSD elegera directamente 21 deputados.
Em 2013, dos 19 eleitos pela coligação, apenas conseguimos identificar 12 como
representantes do PSD, 4 do CDS e 1 do MPT, presumindo que os dois restantes poderão
ser independentes. Considerando serem do PSD todos os presidentes de junta que a
coligação elegeu, ficará com 25 deputados municipais, menos 36% do que nas eleições anteriores.
O que é que o CDS e o tal MPT acrescentaram ao resultado do PSD de 2009?
Nada. Antes pelo contrário.
Já o tínhamos dito antes: uma análise, mesmo superficial, do histórico
dos resultados das últimas eleições em Guimarães permite verificar que, para
crescer, pouco adiantava ao PSD procurar votos à direita, porque lá não havia o
que procurar, a não ser os poucos que ainda tinha o CDS. A coligação acabou por
se confinar ao reduto da direita, deixando o PS absolutamente confortável.
5. Uma outra coligação se apresentou a estas eleições, composta de refugo reaccionário
e homofóbico. Teve o pior resultado de sempre, entre os obtidos por todos os
partidos que até hoje se candidataram à autarquia vimaranense e apresentaram listas para a Assembleia Municipal.
Zero eleitos. Está tudo dito.
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