Efeméride do dia: Roque Francisco, de abridor de cunhos a ensaiador-mor do ouro


17 de Julho de 1681
O vimaranense Roque Francisco foi nomeado abridor dos ferros de cunhos na Casa da Moeda, com o ordenado de 40$000 réis anuais.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. III, p. 47 v.)

Roque Francisco nasceu em 16 de Agosto de 1659, em S. Miguel das Caldas de Vizela, no concelho de Guimarães. Era filho de Domingos Francisco e Isabel Fernandes. Ainda não tinha completado 22 anos quando foi nomeado abridor de cunhos na Casa da Moeda, em Lisboa. A sua função era abrir, ou seja, gravar a buril em peças metálicas, os cunhos, os desenhos e as marcas que aparecem em ambas as faces das moedas, depois de cunhadas. Terá dado boas provas no exercício daquela arte. No dia 18 de Abril de 1717, o rei D. João V concedeu-lhe uma carta de mercê em que o tornava proprietário do ofício de ensaiador-mor da Casa da Moeda.
O que fazia o ensaiador-mor?
Supervisionava as actividades dos ensaiadores do ouro e resolvia as divergências entre estes oficiais e os ourives. Os ourives eram obrigados a levar a um ensaiador todas as peças que produziam. O ensaio consistia em submeter as jóias a uma prova para avaliar a porção de ouro fino, sem mescla, que continham. Se tivessem o grau de pureza legal que a lei exigia (20,5 quilates), o ensaiador marcava as peças com a sua marca particular, devolvendo-as ao ourives. Caso entendesse que a peça não tinha os quilates legais, o ensaiador chamaria a si o ourives, que executara a peça, dando-lhe conta do resultado do seu exame. Caso o ourives reconhecesse razão ao ensaiador, a peça seria imediatamente quebrada na sua presença, sendo-lhe entregue para que a voltasse a fundir. Em caso de discordância do artífice, a peça seria levada à Casa da Moeda. Era aí que intervinha o ensaiador-mor. Na sua presença, a pesa era de novo ensaiada pelo ensaiador da cidade. O ensaiador-mor decidiria se a peça tinha ou não a pureza que a lei impunha: a peça seria quebrada se o seu veredicto coincidisse com o do ensaiador, seria marcada se não coincidisse.
Roque Francisco é o autor de uma obra de referência na sua arte: Verdadeiro resumo do valor do ouro e prata. Lisboa, publicada em 1694. Teria mais duas edições no século XVIII, a primeira acrescentada “com uma instrução para os ourives ligarem o ouro fino com certeza”, de 1739, e a terceira idêntica à segunda, 1757.
Excitando-me a natural curiosidade, aumentada com o exercício da Arte que professo, na qual (como em todas) a ·especulação ensina a discorrer, e a prática a obrar, fui brevemente delineando com as regras da averiguação o valor do ouro·e prata. Depois de as haver compendiado só com tenção de servirem ao meu uso, que exercito, chegaram às mãos do Provedor da Moeda Nicolau de Oliveira, que dignando-se a passar pelos olhos, as louvou, (creio que mais·do que merecem) e pretendeu persuadir-me a publicá-las por meio da impressão. Representei-lhe não ser obra digna, pelo, que toca a seu Autor, de sair à luz, havendo ·na mesma Casa Ensaiadores de mais perícia, e de mais anos, a quem, julgando-se necessária, se podia recomendar. Não lhe valeu tão certa desculpa, antes repetidas vezes me instou lhe desse o gosto de a fazer imprimir.

E a obra saiu.
Na segunda edição, o autor incluiria um segundo texto, onde dá uma breve instrução e modo de ligar o Ouro, e mesclar baixo com fino para o pôr na lei de 20 quilates e 2 grãos ou 20 e ½.

Termina com uma relação curiosa:
Assim como entre as pedras preciosas o diamante é o mais pesado que outra qualquer pedra, sendo iguais em forma e feitio, assim o ouro, como mais precioso, é o mais pesado, que os mais. Isto se reconhece também, em que pesando um pedaço de ouro, ou dinheiro dele em uma balança, pondo em uma concha o ouro e em outra os pesos, e posta no fiel, e metidas as conchas com tudo dentro de um vaso de água pendurada, logo a concha que tem o ouro, se precipita para baixo dentro da mesma água.

Roque Francisco, Verdadeiro resumo do valor do ouro e prata, Oficina de Miguel Menescal da Costa, Lisboa, 3.ª edição, 1694, Lisboa, 1757. pp. 146-147.

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