Carro americano a vapor (c. 1885) |
24 de Julho de 1895
A Câmara, em sessão plenária, depois de
apreciar uma proposta do seu presidente, vota por unanimidade, mas
provisoriamente, a concessão da garantia que pediam os engenheiros Soares
Duarte e Paulo Ferreira para a construção para uma linha americana de tracção a
vapor entre Guimarães e Famalicão, sem prejuízo das cautelas indispensáveis
para segurança dos interesses e dinheiros municipais, devendo essa garantia,
quando se tornasse efectiva, ser considerada como adiantamento ou empréstimo
feito pelo município à empresa, devendo esta restituí-la ao cofre municipal.
Depois, em seguida, nomeou uma comissão composta de três advogados, drs. José
da Cunha Sampaio, Avelino da Silva Guimarães e António Marques da Silva Lopes,
para formularem as cautelas e condições que garantissem os interesses do
município.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses,
manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. III, p. 69 v.)
Com o crescimento das cidades e as
crescentes necessidades de deslocação das pessoas que caracterizam os tempos
modernos, houve necessidade de encontrar meios de transporte colectivos urbanos
e interurbanos rápidos, funcionais e disponíveis. No século XIX, surge nos
Estados Unidos da América um meio de transporte colectivo ligeiro e cómodo, o omnibus. Era um grande vagão
envidraçado, com dois pares de rodas e movido a tracção animal (cavalos ou
machos). Mais tarde, surgiria o “americano”, que era semelhante ao omnibus, igualmente puxado por
parelhas de cavalos ou de muares, em número variável, inovador por circular
sobre carris. No último quartel do século XIX, introduz-se em Portugal uma nova
variante do carro americano, que abandona a tracção animal e passa a ser puxado
pela força do vapor. Apesar do impacto que teve nas cidades em que se
implantou, o carro americano a vapor nunca foi muito popular, queixando-se as
populações de que circulava perigosamente depressa, fazia demasiado ruído,
provocava trepidação de que se ressentiam os edifícios e soltava faúlhas.
Em 1884, o comboio chegara a Guimarães,
ligando esta cidade ao Porto, por Vizela e Santo Tirso. Por essa altura surgem
projectos de ligar Guimarães a outras terras por caminho-de-ferro: a Famalicão e
a Chaves, a Braga e ao Alto Minho, a Fafe. Apenas a última destas ligações se
viria a concretizar. No entanto, chegou estar muito avançada a intenção de
instalar uma linha de carro americano a vapor entre Guimarães e Vila Nova de
Famalicão.
Segundo João Lopes de Faria, no dia 9
Janeiro de 1891, a Câmara dirigiu-se ao Governo, pedindo que fosse
concessionada a António Luís Soares Duarte e Paulo Ferreira, engenheiros civis
da Academia Politécnica do Porto, a construção de uma linha americana de
tracção a vapor entre Guimarães e Famalicão, com os carris assentes na estrada
real que ligava as duas terras mais populosas do Vale do Ave. O assunto
voltaria a ser tratado em sessão da Câmara Municipal de Guimarães no dia 19 de
Junho de 1895.
O projecto apresentado pelos dois
engenheiros às Câmaras de Guimarães e de Famalicão previa que a via férrea de
tracção a vapor apenas teria duas estações (uma em cada uma das cidades que
ligava). A empresa candidata à concessão pediam à Câmara de Guimarães uma
garantia referente a metade do juro do capital em que a linha estava
orçamentada (127 contos de réis), comprometendo-se a entregar todos os anos ao
município, até ao termo do contrato de concessão, uma “renda” de um conto e
quinhentos mil réis. A Câmara decidiu mandar imprimir a proposta e fazê-la
chegar aos quarenta maiores contribuintes de Guimarães, à Associação Comercial,
à Associação Artística e a quem mais entendesse ouvir
Esta proposta seria votada no dia 24 de
Julho, em sessão plenária da vereação, a título provisória e com precauções
quanto à protecção dos interesses e dos dinheiros municipais, devendo a
garantia ser assumida, a partir do momento em que se concretizasse, como um
adiantamento ou um empréstimo. Durante a sessão, o presidente da Câmara, Mota
Prego, leu um telegrama da Câmara de Famalicão, que acabara de receber, onde se
dava conta que a Câmara daquela cidade aprovara por unanimidade a mesma
proposta que estava em discussão em Guimarães. Na sequência desta deliberação,
foi nomeada uma comissão de juristas experientes, José da Cunha Sampaio,
Avelino da Silva Guimarães e António Marques da Silva Lopes, com o encargo de
formularem os termos do contrato a subscrever entre as partes.
No final de Agosto, reuniram-se na casa da
Câmara os quarenta maiores contribuintes do concelho de Guimarães, para darem o
seu parecer acerca do projecto de ligação de Guimarães a Famalicão por carro
americano a vapor. A proposta foi aprovada por unanimidade.
Quatro anos
mais tarde, a 19 de Julho de 1899, a Câmara ainda escrevia ao rei a pedir-lhe
que fosse deferido o pedido de concessão apresentado por António Luís Soares e
Paulo de Freitas para a construção de uma linha americana de tracção a vapor
Guimarães-Famalicão. Não sabemos se obteve qualquer resposta. Mas sabemos que
este foi um projecto que nunca se concretizou.
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