Efeméride do dia: Francisco Martins Sarmento (II)

Citânia de Briteiros. Aspecto de área escavada. Fotografia de Martins Sarmento.

10 de Julho de 1874
O dr. Francisco Martins Sarmento dá princípio à exploração metódica e científica da Citânia de Briteiros.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. III, p. 28 v.)

Nas biografias de Francisco Martins Sarmento, costuma constar que iniciou as suas explorações da Citânia de Briteiros em 1875. A verdade é que tal aconteceu um ano antes, como se verifica nos seus cadernos de apontamentos sobre aquela estação arqueológica.
O fascínio de Sarmento pelas ruínas da velha cidade perdida no monte de S. Romão é antigo e está bem documentado. Depois de um longo processo de aprendizagem do processo fotográfico, Martins Sarmento passou a usar a fotografia como ferramenta da investigação arqueológica. Serão os álbuns fotográficos com imagens arqueológias, que Sarmento produzirá nos anos seguinte, que atrairão o interesse da comunidade científica, nacional e internacional, para as suas descobertas na Citânia.
Sobre esse tempo, aqui fica um excerto de um longo artigo evocativo da vida e da obra de Francisco Martins Sarmento, publicado no jornal O Comércio de Guimarães, no mesmo número em que anunciava o seu falecimento:

Martins Sarmento tinha o seu solar paterno em Briteiros, junto das Taipas, e lá passava grande parte do ano entregue aos seus estudos.
Num monte fronteiro, o monte de S. Romão, que ele subia muitas vezes, muitas vezes topara com umas pedra trabalhadas cuja origem na localidade ninguém conhecia.
O seu espírito investigador adivinhou depressa que tinha ali matéria-prima para estudos originais, e não tardou a reconhecer que estava em presença das ruínas duma cidade morta — a Citânia.
A esperança de ser útil ao seu país, e ao mesmo tempo o encanto penetrante das coisas passadas fê-lo convergir os seus esforços para o estudo da etnologia portuguesa, sobre que lançou imensa luz em diversas memórias originais que são “uma honra para Portugal” na frase de Andrade Corvo, e que fizeram do seu autor uma glória do nosso país.
Foi em 1874 que Martins Sarmento iniciou a exploração metódica e científica da Citânia de Briteiros, exploração que foi um acontecimento arqueológico muito notável.
Esses trabalhos foram muito apreciados. Em 1876 foram as ruína exploradas visitadas por vários arqueólogos e homens de ciência portugueses que “ficaram enleiados no vivo interesse, que despertam os restos duma cidade, cuja origem se oculta na escuridão dos tempos”.
Em 1880 o Congresso de Antropologia e de Arqueologia Pré-Histórica reunido em Lisboa, tomou conhecimento dos trabalhos de Martins Sarmento, cujas indicações foram então muito discutidas. Nesse congresso apresentou Martins Sarmento uma memória notabilíssima — Os Lusitanos — que se acha traduzida em francês e que é dum grande valor científico.
Vários membros do congresso, entre outros, os sábios estrangeiros Wirchow, Henri Martin, Emile Cartailhac, Emile Hübner, a convite de Martins Sarmento, fizeram uma excursão a Briteiros onde se não cansaram de admirar e felicitar o ilustre vimaranense pelas suas belas descobertas.
O Comércio de Guimarães, 11 de Agosto de 1899

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