Efeméride do dia: A universidade da Costa


7 de Junho de 1541
Alvará pelo qual D. João III concedeu ao Prior do Real Mosteiro da Costa que, juntamente era seu reitor e cancelário, e aos seus lentes, que dessem graus de licenciados, de bacharéis e mestres em artes, e que os graduados tivessem as mesmas isenções que usavam os da Universidade de Coimbra. A estes privilégios se refere a inscrição lapidar lavrada e embutida na parede exterior da rotunda da capela-mor da igreja e o alvará, em 1748, estava arquivado no cartório do mesmo mosteiro, gaveta 11, número 25.

(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. II, p. 243)


Em 1535, D. João III instituiu um colégio em Penha Longa, para formação de religiosos. O seu fundador foi Frei Diogo de Murça, que intercedera junto do rei para que ele providenciasse a criação de um instituto para a educação dos seus confrades. Logo em 1537, por ordem do mesmo rei, o colégio foi encerrado e transferido para Guimarães, para o Mosteiro de Santa Marinha da Costa, do qual Diogo de Murça seria designado prior.
No princípio do mês de Setembro de 1537 já o Colégio da Costa estava em funcionamento. Foi nessa altura que foi visitado pelo humanista flamengo Nicolau Clenardo, que, no regresso de uma peregrinação a Santiago de Compostela, fez um desvio por Viana e Barcelos e veio a Guimarães onde, no Mosteiro da Costa, se encontrou com Frei Diogo de Murça, que conhecia da Universidade de Lovaina. Escreveria, numa carta, acerca dessa visita:

A ceia foi ao pé de Guimarães, com o padre Diogo de Murça, prior do mosteiro da Costa, que nos fez as honras da casa. Para o visitar por ocasião desta minha peregrinação a S. Tiago, tive de andar uns cinco dias à roda de Braga, mas preferi gastar todo esse tempo, a ir de Braga ter com ele, o que era fácil, visto que só nos separam três léguas.
Tem ele no mosteiro três lentes, todos portugueses. Conheceis já o Bordalo: este ensina ética logo depois de almoço e a física antes do meio-dia; outro ensina a dialéctica; e o terceiro, sob cujas bandeiras milita um filho de el-rei, de catorze anos de idade, a retórica. Assisti às lições de todos eles, e quiseram-me parecer bastante desempoeirados no seu assunto.

A mudança do colégio dos jerónimos para a Costa estará relacionada com a necessidade de formação do seu aluno mais notável, D. Duarte de Portugal , filho bastardo de D. João III. Com ele estudou o Antoninho, filho do infante D. Luís e de Violante Gomes, a Pelicana, provavelmente judia, que viria a ser Prior do Crato e pretendente ao trono de Portugal após a morte do Cardeal-Rei D. Henrique, em 1580.
O Colégio da Costa era, pelos cursos que ministrava (Artes, Filosofia e Teologia) e pela qualidade dos seus mestres, humanistas formados em universidades estrangeiras, uma verdadeira, embora pequena, universidade. Foi autorizado a conferir graus naquelas disciplinas pelo papa Paulo III, em 1539.  No dia 7 de Junho de 1541, o rei concedeu autorização para que o Colégio atribuísse os graus de bacharel, licenciado e mestre, com equiparação aos que eram concedidos pela Universidade de Coimbra.
Em 1542, o príncipe D. Duarte foi investido pelo seu pai na dignidade de Arcebispo de Braga. Tinha 21 anos e o seu episcopado foi breve, já que faleceu em Novembro de 1543. No mesmo mês, Frei Diogo de Murça foi elevado à condição de reitor da Universidade de Coimbra, tendo providenciado a transferência dos alunos do colégio de Guimarães para Coimbra. O colégio da Costa perdia o seu mentor e iria perder, num dos anos seguintes, um dos seus principais alunos, D. António. Esta terá sido a machadada final na breve experiência de estudos superiores no Mosteiro da Costa.

Comentar

1 Comentários

Anónimo disse…
E utilizaram-se, neste período áureo do mosteiro, livros de cantochão para o coro, de uma beleza e arte notáveis, hoje «guardados» no Museu Alberto Sampaio, No Museu Municipal e na Sociedade Martins Sarmento. Provavelmente, copiados no «scriptorium» do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.

Eduardo Magalhães