Efeméride do dia: Abertura do Hospital da Misericórdia no antigo convento dos Capuchos

Igreja do Convento de Santo António dos Capuchos de Guimarães (c. 1857-1859), numa fotografia de Frederick W. Flower

1 de Junho de 1843
Principiaram a entrar os doentes pobres para o novo hospital civil estabelecido no Convento dos Capuchos, no qual se tinham feito alguns reparos para o mesmo fim. Os que promoveram a mudança para os Capuchos tomaram o expediente de mandar os doentes que viessem de novo para os Capuchos, para não mudarem os que estavam no hospital antigo, para isto não fazer sensação em muitos dos habitantes da vila, que não gostavam da mudança do hospital antigo, por conhecerem que esta mudança foi mais para obterem alguns sujeitos ("O Baptista e Castro do Passeio do Toural") o terreno do hospital antigo, e não por o bem dos pobres. PL.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. II, p. 225 v.)
Nos primeiros tempos da Santa Casa da Misericórdia de Guimarães, os cuidados aos doentes desvalidos eram assegurados pela governança da Santa Casa, isto é, por doze irmãos da Misericórdia que acolhiam em suas casas os enfermos pobres, custeando as despesas com a sua alimentação e remédios com as esmolas que recolhiam com esse fim. O Hospital propriamente dito seria instalado em 1606, numas casas que iam da igreja da Misericórdia até à viela da Arrochela e ao largo de S. Paio.
Em 1839, o hospital era manifestamente insuficiente para assegurar o serviço assistencial que aquele tempo exigia: a população crescera, as condições físicas do edifício degradavam-se progressivamente. Na Misericórdia, dividiam-se as opiniões quanto à melhor opção a tomar, havendo quem fosse a favor de se fazerem obras no velho hospital, enquanto que outros defendiam a sua mudança para um edifício com melhores condições. À volta destas soluções formaram-se dois “partidos”, que se candidataram à eleição da mesa em listas separadas. O processo eleitoral foi conturbado, tendo sido eleito provedor António de Nápoles Vaz Vieira Alvim, defensor da mudança do hospital para novas instalações.
Em Agosto de 1841, a Misericórdia solicitou às Cortes, que lhe fossem concedidos o Convento de Santo António dos Capuchos, com a respectiva cerca. A Misericórdia seria autorizada a adquirir o Convento em hasta pública, o que se concretizaria no dia 13 de Julho de 1842, passando o convento para a posse da Misericórdia pelo preço de 1:600$000 réis.
Por proposta do Provedor, seria nomeada, cerca de um mês após a aquisição do convento, uma comissão para que tratasse da mudança do hospital para as novas instalações. Na mesma reunião foi decidido avançar com a construção de um novo edifício para o hospital, mandando-se vir um riscador do Porto para examinar o terreno e elaborar a projecto do novo edifício.
Os primeiros doentes entrariam no primeiro dia de Junho daquele ano, mas apenas aqueles que a partir dali requeressem os serviços do hospital, já que se optou por não transferir os que estavam internados no hospital velho, para evitar alarido público à volta da suspeita de existirem interesses pouco generosos por trás da transferência do hospital. Essa suspeita esteve na origem da oposição de parte dos irmãos da Santa Casa que se opuseram a essa solução.
Quase em simultâneo à abertura do hospital nas suas novas instalações, começou a venda do edifício do hospital velho. A primeira arrematação de parte do edifício da rua Sapateira concretizou-se no dia 11 de Junho de 1843, confirmando-se a ideia de que a mudança do hospital resultaria em benefício para os moradores do passeio do Toural. Foram estes que adquiriram o edifício.

Entretanto, o hospital da Santa Casa da Misericórdia, já no edifício do convento dos Capuchos, ia recuperando as suas rotinas. No dia 13 de Junho de 1844 cumpriu-se uma antiga tradição, que tinha lugar no dia em que se assinala a Visitação de Santa Isabel: o hospital foi aberto ao público, que o pôde visitar. Segundo escreveu o cónego Pereira Lopes no seu diário, o hospital estava asseado e foi visitado por muita gente.

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