A Igreja de S. Pedro numa fotografia de meados do séc. XX. Em 1909, a igreja ainda não tinha esta configuração. |
13 de Maio de 1809
Os franceses entraram na igreja de S. Pedro e "encheram toda a
igreja de cavalos, como também a sacristia, e levaram vários ornamentos e
toalhas e foram ao sacrário e quebraram o santo lenho que estava metido no sacrário e não apareceu o santo lenho. Os
altares apareceram cheios de milho e também toucinho, os caixões de guardar os
paramentos cheios de milho e palha, os esquiches de lavar as mãos quebrados, o
supedâneo onde se assentam os padres às missas cantadas cheio de cinza e
carvões que aí cozinharam". - Livro de Termos da Irmandade - Guimarães,
padre Caldas, 2º vol.
(João Lopes de Faria, Efemérides
Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol.
II, p. 142 v.)
Em 1808, já os franceses tinham andado por aqui. Acabariam por bater em
retirada, deixando atrás de si um rasto medonho de destruição, que
perduraria na memória das gentes e se consagraria na expressão ir para o maneta (eram comandadas por um
general sanguinário, Loison de seu nome, a quem faltava um braço, pelo que era
conhecido como o Maneta). Como
escreveu Vasco Pulido Valente, “pela primeira vez, «os gloriosos conquistadores
da Europa» fugiam”. Espalhavam terror por onde passavam, fugindo de gente mal
munida de armas, mas carregadas de ira contra o usurpador. Fugiam também da
combativa e memorável hoste de Guimarães de 1808.
Mas regressariam. Menos de um ano depois, já cá andavam, durante a
segunda invasão. As gentes de Guimarães, que já sabiam ao que vinham os
soldados de Napoleão, trataram de proteger os tesouros das igrejas, mas, no
caso da igreja de S. Pedro, não foram bem sucedidos. O documento que é referido
nesta efeméride de João Lopes de Faria tem o seguinte teor:
Aos 23 de Março de 1809 entraram os franceses nesta vila de Guimarães. O
Padre Sacristão desta Igreja levou toda a prata desta Irmandade para casa do
Reverendo Abade do Salvador de Pinheiro e a enterrou, e depois os Franceses a
desenterraram e a levaram, que constava de cinco cálices e um principalmente
precioso de figuras levantadas, que tinha dado o Reverendo Beneficiado Luís
António da Costa Pego, e também levaram uma caldeira e hissope de prata, umas
galhetas de prata e o resplendor de S. Pedro, como também um anel de diamantes,
as chaves de S. Pedro, a coroa de Nossa Sª de Assunção, a coroa de Nossa
Senhora do Rosário, a do Menino, a custódia de expor o SS. Sacramento, a chave
do sacrário, o resplendor de S. Pedro pequeno e as chaves, um jarro e bacia de
prata de botar água às mãos, tudo isto levaram os Franceses no dito dia acima,
e no dia 13 de Maio do dito ano, entraram nesta Igreja de S. Pedro, em que
encheram toda a Igreja de cavalos, como também a sacristia, e levaram vários
ornamentos e toalhas e foram ao sacrário e quebraram o santo lenho que estava
metido no sacrário e não apareceu o santo lenho. Os altares apareceram cheios
de milho e também toucinho, os caixões de guardar os paramentos cheios de
milho e palha, os esguiches de lavar as mãos quebrados, o supedâneo onde se
sentam os Padres às missas cantadas cheio de cinza e carvões, que aí
cozinharam, e para em todo o tempo constar mandou a presente Mesa fazer esta
declaração, a qual a escrevi como Secretário actual da Irmandade. O Padre José
António ribeiro da Rocha, Secretário. - Guimarães 28 de Julho de 1809.
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