Efeméride do dia: João Franco vem a Guimarães prestar contas

O Toural engalanado para a recepção a João Franco em 9 de Maio de 1886


9 de Maio de 1886
Chega a esta cidade o entusiasta deputado deste circuito, João Franco Castelo Branco, tendo uma arrebata recepção e brilhantes festejos, de que era merecedor, sendo estreada a bandeira que as damas ofereceram, com o lema "antes quebrar que torcer", à Comissão de Vigilância. - Vide "28 de Novembro", jornal vimaranense.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. II, p. 132)

Quando João Franco Castelo Branco foi eleito deputado por Guimarães pela primeira vez, no dia 29 de Junho de 1884, foi encarado por muitos como um estranho que nunca pusera os pés na cidade, à qual fora imposto pela lógica partidária de distribuição de lugares. Ele era o “imposto regenerador”. No entanto, os vimaranenses viriam a dedicar-lhe uma verdadeira devoção, por ter assumido como sua a causa do concelho aquando do conflito brácaro-vimaranense de 1885-1886. O projecto de lei para a desanexação de Guimarães do distrito de Braga e subsequente união ao Porto teria a sua autoria. Não teria acolhimento, mas Guimarães viria a ser beneficiada com um regime de autonomia idêntico ao que gozava o concelho de Lisboa.
No dia 9 de Maio de 1886, João Franco visita Guimarães para cumprir uma promessa que fizera numa outra vinda à cidade, no início da agitação que levaria à queda do último Governo de Fontes Pereeira de Melo.
Quando chegou a Guimarães, ao final da manhã, tinha a recebê-lo as autoridades locais e uma multidão de cerca de vinte mil pessoas. A aproximação do comboio em que vinha o deputado, na companhia do seu pai, foi anunciada por uma salva de morteiros e pelos estoiros de centenas de foguetes. Entre as bandeiras que ondulavam festejando o defensor de Guimarães, estava a célebre bandeira do “Antes quebrar que torcer”, bordada por senhoras vimaranenses e entregue naquele dia pelo presidente da Sociedade Martins Sarmento, José Sampaio, ao Conde de Margaride.
A recepção ao deputado seria assim descrita no último número do jornal 28 de Novembro, que se publicaria a 2 de Junho:

O nosso ilustre deputado foi recebido no meio do mais delirante entusiasmo. Os vivas eram incessantes, atroadores: toda a multidão, composta de muitos milhares de pessoas levantava brados uníssonos, aclamando o homem a quem Guimarães devia o ter a sua questão assumido a importância a que chegou.
No meio das pessoas que mais se distinguiam pelo seu entusiasmo não podemos omitir os artistas srs. Domingos Anacleto e Manuel Câmara, os quais estenderam os seus casacos no chão para o sr. dr. Franco passar por eles, ao que o digno deputado não ac deu, S. ex. andou por vezes no colo dos artistas.
Organizou-se o cortejo. As associações e corporações com suas bandeiras e músicas, seguidas pela enorme multidão, desceram para a cidade. Aqui viam-se as janelas completamente cheias de senhoras, e as ruas cobertas de uma massa de povo tão apinhado que ainda nas ruas mais largas era difícil o trânsito.
De todas as janelas as senhoras acenavam com lenços, choviam flores e coroas: um verdadeiro delírio.
Ao chegar ao castelo levantado na entrada da rua da Rainha um formoso grupo de meninas lançava, por entre as ameias, flores sobre o deputado e o cortejo.
O sino do relógio municipal tocou em sinal de regozijo.

À tarde, houve comício na Associação Artística, onde João Franco cumpriu aquilo que prometera, prestando contas aos eleitores dos trabalhos parlamentares em que estivera envolvido.
À noite, a cidade, que se tinha engalanado para receber o seu deputado, esteve iluminada, nomeadamente no Toural, na rua da Rainha e no antigo Terreiro da Misericórdia, que naqueles dias havia sido rebaptizado com o nome de João Franco.
A cidade estaria em festa até ao dia da partida do deputado, a 17 de Maio.

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