Chaves simbólicas de Guimarães, que estiveram à guarda da rainha D. Maria II enquanto permaneceu em Guimarães, em Maio de 1852. Pertencem ao Museu da Sociedade Martins Sarmento. |
15 de Maio de 1852
Visita régia.-
Partiram, de Braga para Guimarães, as Majestades, às 5 horas da manhã;
encontraram pela estrada alguns arcos, muitas músicas populares, muito povo
vitoriando o real préstito e muitas mulheres chorando de alegria por verem a
sua soberana. El-rei demorou-se algum tempo nas Taipas examinando os banhos e
as inscrições antigas. Às 9 horas da manhã chegaram a Guimarães S. S. M. a Rainha,
D. Maria II, seu esposo D. Fernando, o príncipe real D. Pedro e o infante D.
Luís. À porta da vila estava um rico arco e toda a vila estava bem adornada. Aí
o Presidente da Câmara, João Machado Pinheiro, pronunciou um brilhante discurso
ao entregar as chaves da vila. Uma multidão de povo das aldeias (mais povo
seria se fosse no dia 17 como se esperava) dava muitos vivas a Suas Majestades.
Na Colegiada foram recebidos e assistiram ao Te Deum, tudo na forma do ritual.
Recolheram ao palácio de Vila Flor, de Nicolau de Arrochela. À noite a vila iluminou-se
e nos Passarinhos (S. Francisco) um coro de numerosíssimas raparigas cantando.
Guarnecia Guimarães um destacamento de infantaria nº 2. Nb: Do livro das actas
da Câmara nada consta desta visita régia, pois da sessão de 28 de Abril, passou
à de 22 de Maio !!!!
(João Lopes de Faria, Efemérides
Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol.
II, p. 147 v.)
Em Maio de 1852 a Corte portuguesa andava em visita ao Norte do País. Na
manhã do dia 15, com dois dias de antecedência em relação ao inicialmente
programado, a rainha deu entrada em Guimarães, sendo recebida por uma
entusiástica manifestação popular. No Toural esperavam-na, além do povo, as
autoridades locais “e tanto povo que ocupava quase todo o terreiro apesar
de grande: as janelas estavam bem guarnecidas de senhoras e todas adamascadas,
e a grande boa e uniforme fachada dos edifícios deste terreiro pintada a uma só
cor, (de limão).” (Alberto Vieira Braga, Curiosidades de Guimarães,
Sociedade Martins Sarmento, 1993, vol. III, pág. 132).
No Toural, junto às Portas da Vila, o Presidente da
Câmara entregou à rainha as chaves simbólicas de Guimarães, constituindo-se aí
um cortejo que seguiu, em direcção à Colegiada, pela rua dos Mercadores (que
seria baptizada de Rua da Rainha D. Maria II) “que estava bem guarnecida e
alcatifada de baeta cor de púrpura no centro e pelos lados de ervas odoríficas,
e as janelas apinhadas de senhoras e adamascadas”.
A estadia em Guimarães da comitiva real, que ficou ficou
alojada no palacete do Conde de Arrochela (Vila Flor), prolongou-se por dois
dias, que foram de festa contínua, com multidões nas ruas, música, casas
engalanadas, iluminação festiva.
Sobre esta visita, João Lopes de
Faria anotou, para este mesmo dia, a seguinte notícia da estadia de D. Maria II
em Guimarães:
Um cavalheiro
vimaranense, diz o seguinte: "A rainha D. Maria II, seu marido D. Fernando
e seus filhos, o príncipe real D. Pedro e o duque do Porto, D. Luís, chegaram
às 9 horas da manhã e alojaram-se na casa de Vila-Flor, Cavalinho. No dia
seguinte, 16, domingo, deram beija-mão à Câmara, Cabido, magistrados, justiça,
generais, condes e grandes do reino que os acompanhavam, à Ordem Terceira de S.
Domingos, etc.etc. Às 4 horas da tarde, seguidos da sua comitiva, foram à
Colegiada e seu tesouro, e depois à igreja dos Domínicos, sendo recebidos nas
escadas do pátio da igreja, debaixo do pálio, e à porta da igreja o padre
director paramentado lhes deu a cruz a beijar; seguiram para a capela-mor fazer
oração, daí para a sacristia, casa do despacho onde se achava o trono com docel
e cadeiras, às obras da nova enfermaria visitar os doentes, depois ao jardim,
onde apalparam o cão de murta, para verem se era fixo ou só para esta ocasião;
determinaram ao marechal Duque de Saldanha suas reais resoluções, para serem
consideradas Suas Reais Pessoas como associadas nesta V. Ordem, o que este
comunicou ao José Gomes Fernandes Baptista, um dos fundadores do hospital (autor
desta narração), indicando-lhe com quem, para levar a efeito tal fim, tinha de
entender-se. No jardim, durante a visita, houve fogo, repiques e vivas. À saída
voltaram à igreja; foram sempre acompanhados pela Mesa e Ordem até entrarem no
coche, dando-lhes, à Mesa e à Ordem, demonstrações de satisfação e alegria. A
família real foi muito festejada em Guimarães durante os dias que aqui esteve,
e recebeu numerosos presentes, merecendo especial menção uma bandeja-almofada,
coroa e ceptro de linha, feita no Convento das Domínicas. Os povos do Gerês
vieram a Guimarães trazer à Família Real 3 cargas de caça morta e 7 cabrinhas
bravas vivas, as quais S.S. M.M. levaram para Lisboa. A rainha mandou dar 15
moedas a cada um dos 4 conventos de freiras, e avultadas esmolas aos presos e
várias outras pessoas. No "Observador", de Coimbra, de 29 de Maio,
lê-se: "S. M. a rainha fez tanto apreço da coroa de linha que uma
religiosa domínica lhe ofertou que tenciona mandá-la para sua prima a rainha Vitória."
O Duque de Saldanha hospedou-de no Arco, com todo o seu estado-maior, e o Duque
da Terceira, e seus ajudantes, em Vila Pouca. - Ver nos do
"Periódico dos Pobres no Porto".
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