Retirada da estátua de D. Afonso Henriques do Toural, no dia 21 de Maio de 1940 |
21 de Maio de 1940
À noite foi apeada a estátua de El-rei D. Afonso Henriques que estava em
cima de um pedestal de mármore no meio do jardim do Toural, e conduzida para o
novo parque do Castelo e colocada em pedestal de granito à entrada do mesmo
parque, ficando concluída a colocação no dia seguinte.
(João Lopes de Faria, Efemérides
Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol.
II, p. 167)
O monumento de D. Afonso Henriques, havia sido mudado, quando
Guimarães celebrou o oitavo nascimento do rei fundador, em 1911, do largo de S.
Francisco para o Toural.
Mais de vinte anos se passaram, até ao dia em que num dos primeiros
números do jornal Notícias de Guimarães,
o poeta Jerónimo de Almeida, escrevia uma crónica na sua coluna “Sem Monóculo”, com o título Grandes Melhoramentos
Municipais”, onde, a certa altura, se lê:
Ao alto duma parede branca — em que julguei vislumbrar um vestígio da
histórica muralha — berrantes letras de reclame gritavam, em cores vivas, “Vacuum
Oil” e cartazes ambulantes estacionavam por ali, atraindo os frequentadores do
Cinema. Os engraxadores regalavam-se a ver quem passava, fitando-me o calçado
como os alfaiates contemplam o nosso fato e os chapeleiros o chapéu. Como nunca
me preocuparam estes pormenores — a não ser pelo seu lado cómico, pois se levo
o calçado sujo sei que ninguém me paga para o mandar limpar e se o fato está
coçado ninguém me dá outro — relanceei um olhar indiferente à minha volta e
encarei com o D. Afonso. “Então por aqui!”
estive eu para murmurar, usando do cumprimento que mais propriamente deveria
partir de seus brônzeos lábios cerrados em muda, mas eloquente expressão de
altivez. É que estranhei não ir encontrá-lo para as bandas do Castelo, do seu
Alcácer fortificado, erguido no topo da colina que se avistava da estação do
C.° de Ferro. Com franqueza, não estava no seu lugar numa praça com toda a
feição moderna, todo o ar civilizado de hoje. Os monumentos devem ter um
ambiente próprio, um cenário adequado que lhes não amesquinhe nem o aspecto nem
a significação. Em meu entender — e deve ser este, sem vaidade, o mais
criterioso — se o Toural tinha uma Fonte decorativa, que foi deslocada há
bastantes anos para outro largo da cidade, era essa Fonte ou Chafariz que devia
ostentar-se naquela praça, embora actualmente ajardinada, pois muito bem lá
ficariam as suas bicas a jorrar água, sendo um motivo de beleza ouvi-la a cair
— além de que se respeitava a tradição. Dizem-me que o D. Afonso já dera um
pequeno passeio doutro lugar para ali; pois foi pena que o não desse maior,
para junto do Castelo, porque era lá onde devia estar.
Notícias de Guimarães, n.º 7, Guimarães, 22 de Fevereiro de
1932
Propunha Jerónimo de Almeida que a estátua de D.
Afonso Henriques fosse transferida “para um ambiente próprio” que, no seu
entender, seria nas imediações do Castelo, ao mesmo tempo que lançava a ideia
de que o velho chafariz que fora transferido para o Largo do Carmo ainda no
século XIX deveria retornar ao seu ambiente original, ao Toural.
Oito anos depois, a 21 de Maio de 1940, no quadro das
celebrações dos centenários, cumpria-se o primeiro desejo do poeta: a estátua
de Afonso Henriques fazia o resto do passeio, indo para as imediações do
Castelo. O segundo também se cumpriu, mas demoraria muito mais tempo. Foi
preciso esperar que Guimarães fosse designada Capital Europeia da Cultura.
Entretanto, na trasladação da estátua afonsina para a
colina do Castelo, levou sumiço o pedestal de mármore que completava o
monumento concebido por Soares dos Reis.
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