Ao Conde da
Calheta prognosticando-lhe sucessão em um filho varão.
Eu tenho, excelso Conde, um livro
antigo;
Nunca das mãos me sai, ou de algibeira;
Que um cigano deixou a uma
parteira,
A qual em vida quis casar comigo:
Contém de adivinhações um longo
artigo,
Sinais de parto pela vez
primeira,
E trata esta questão em lauda
inteira:
La dama encinta si trae hembra,
ou hijo?
Com que eu cá me entendo: isto
suposto
Quereis vós apostar um tanto, ou
quanto,
Pois mais que o ganho a perda vos
dá-gosto?
Se for varão, que venha a lume
santo.
Perdeis uma casaca; e eu sempre
aposto
Sendo fêmea, atrás dela andar de manto.
Eis um soneto em que
o Lobo se dá ares de adivinho aciganado, e aposta com o Conde da Calheta que a
sua senhora ia dar à luz um rapaz. A aposta valia uma casaca. Logo veremos se a
ganhou.
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